domingo, 5 de novembro de 2006

Francisco Buarque de Hollanda

Saí ontem do Coliseu de Lisboa com uma sensação que já me é, de certa forma, familiar. Não que já tivesse visto Chico Buarque ao vivo, mas porque tenho conseguido assistir nos últimos tempos a concertos de bandas e músicos que nunca pensei ser possível ver ao vivo. Caetano Veloso no Coliseu (tournée “Prenda Minha”) depois de muitos anos sem vir a Portugal; The Doors Of The 21st Century no Pavilhão Atlântico (mesmo sem o falecido Jim e o ausente John), quando inclusive cheguei a conhecê-los pessoalmente; Queen & Paul Rodgers no Estádio do Restelo (mesmo sem o falecido Freddie e o ausente John); Roger Waters no Pavilhão Atlântico (mesmo sendo a solo); e agora o Chico Buarque. Foram concertos que me trouxeram à memória muitas vivências e experiências da minha adolescência (tenho 28 anos e pareço um cota a falar, lol), é sempre bom quando isso acontece.
O que dizer de um ícone incontornável da música popular brasileira, um verdadeiro génio da música, um compositor fantástico? Um criador de uma música original e única, na forma e conteúdo, densa e cheia de simbolismo? Apenas que continua de boa saúde e, como manda a regra do vinho do porto, está melhor com a idade. Tímido como é seu apanágio, mostrou-se muito à vontade e isso notava-se na sua voz, talvez não tanto na linguagem corporal, mas ele lá explicou o porquê dessa sua postura. Falou mais do que se esperava, comunicou, e o concerto foi decorrendo durante pouco mais de duas horas, mostrando os temas do novo álbum (“Carioca”) e passando por alguns clássicos inevitáveis. Foram mais de 30 canções fantásticas interpretadas pela colecção de músicos brasileiros de mão cheia que o acompanham. De notar: o carinho do público, a receptividade algo contida mas assumida do Chico face ao calor humano naquela sala de espectáculos fantástica, a musicalidade e os arranjos formidáveis de todos os temas, mesmo os mais antigos, a interpretação vocal do baterista num registo jazz tipicamente negro ao estilo americano, proporcionando uma belíssima contraposição à voz meiga do Chico, e o marco indelével nas memórias de quem por lá passou, viu e ouviu um dos grandes da música brasileira, senão o maior! Valeu a pena esperar e considero não ter havido expectativas goradas, mesmo para quem se apresentava neste espectáculo com um certo receio pelos anos que o Chico passou afastado da música. Foi uma noite excepcional e inesquecível!

links interessantes (ou não):
http://chicobuarque.uol.com.br/http://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Buarque
http://radiocomercial.clix.pt/destaques/doors/
http://ctanganho.no.sapo.pt/thebackdoors/d21c.htm

2 comentários:

Isa disse...

Como adorava ter lá estado e que descrição deliciosa!
(coisa feia, a inveja...)
beijos

Sidjoa disse...

Lindo!!

Um concerto para ficar para sempre guardado em nós. Dos dedos dos pés aos dedos das mãos, passando pela pele de galinha, ou, como diria o Chico, à flor da pele.