Antevendo que hoje sairia às 18h, quando normalmente deixo o trabalho bem mais tarde, e depois de calculadas as probabilidades de sucesso das previsões dos senhores do tempo, lembrei-me de antecipar (não 'planear', já explico porquê mais em baixo...) esse momento e compilar uma série de músicas, escolhidas a dedo e provenientes de duas pastas da minha playlist, com os labels quentes e boas e jazz para ouvir em dias de chuva. Tenho a perfeita noção que o meu final de tarde seria completamente diferente - não necessariamente mau, nem pior! - se viesse para casa a ouvir Rock, Pop ou Reggae. Assim, passei pela intempérie calmo, movi-me tranquilo pela confusão e desloquei-me na mais pacífica das boas disposições até casa, num final de dia chuvoso, tipicamente caótico de uma cidade como Évora.
Além da capacidade imediata de fazer sentir, a Música pode ter o desígnio de encaixar essas sensações com os vários momentos que experienciamos, interligando-os e contextualizando sentimentos abstractos com situações reais, de uma maneira incrivelmente revitalizadora, como forma de produção saudável e continua de memórias e registos para guardar, mais tarde recordar e voltar a sentir, sempre que nos aprouver. Quando algo interessante se acontece, não necessariamente fantástico, mas aprazível e que a seu modo nos preencha, mesmo que 'só até meio do copo', podemos destacar essa ocorrência com uma música ou um género musical. Talvez isto só seja possível com algumas das muitas formas de arte. O cinema, por exemplo, alia a literatura, a música e as artes cénicas numa recriação das vivências das personagens que nos toca particularmente, mas assim, com a curiosidade de sermos nós a "fazer o nosso filme", somos actores, realizadores e responsáveis pela banda sonora das nossas vidas, já que - felizmente - não podemos, de todo, ser produtores ou argumentistas do que se nos vai apresentando diariamente. Se a vida é "aquilo que nos acontece enquanto fazemos planos" e se não podemos planear o que nos sucede, então podemos pelo menos dar outra cor, sentido e até vida aos momentos mais simples que compõem o nosso dia-a-dia.
Deixo aqui um exemplo para este momento, clima e contexto: cidade, trânsito e pessoas esbaforidas a tentar fugir à chuva, que cai copiosamente... Bic Runga, Sildje Neergard, Norah Jones, Jane Monheit, Jacinta, Ingrid Michaelson, Zee Avi, Luísa Sobral, Caetano Veloso, Tony Bennet & Amy Winehouse, Tracy Chapman, Corinne Bailey Rae, Michael Bublé... e porque não, os meus amigos Manuel Guerra e Sr. Trinity!
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