A condição humana, quando observada e estudada, sempre evidenciou uma dicotomia dialéctica que nos persegue a todos desde a alvorada dos tempos e nos caracteriza enquanto mortais dotados de livre arbítrio, coisa única entre as espécies que compõem este planeta e o universo conhecido. Podem existir outros animais dotados de inteligência conhecidos pelo homem, e até alguns que concebam, não a ideia, mas talvez a vontade de extinguir a sua própria vida, porém, aquilo que nos caracteriza enquanto espécie é sem dúvida único e, até ver, inédito. Passo a explicar: se “a vida é o que nos acontece enquanto fazemos planos”, então para quê entrar em grandes raciocínios lógicos de preparação para a vida real? Qual o porquê que fundamenta uma reflexão compulsiva a priori sobre aquilo que são os nossos sonhos e objectivos a concretizar no tempo futuro… a vida é aquilo que se passa lá fora enquanto passamos tempo cá dentro (na nossa mente). Mas por outro lado de que nos serve a adrenalina pura de um golpe espontâneo e completamente irreflectido se acabamos por nos prostrar na poeira de tais acontecimentos fugazes e voláteis como são cada um dos passos que damos em qualquer sentido que seja. Quando fecharmos os olhos pela última vez não haverá a necessidade de repensar e organizar memórias e pensamentos num álbum bonito e mágico… a vida já terá sido, já se terá extinguido, acabado. O que há a retirar de uma vida se nunca nos chegamos a aperceber do seu verdadeiro sentido e porquê o sermos responsáveis e modestos quando podemos ser deuses da nossa individualidade existencial e aparente satisfação? Ao sermos nós próprios, até ao ponto de não nos preocuparmos com os outros ou até com a nossa saúde física, psíquica e emocional, estamos a contaminar a água usada para saciar a nossa sede de felicidade, pois que o imediato nem chega sequer para alimentar a fome de satisfação evidente que nos move, o nosso contentamento e prazer instantâneo. Temos de ser inteligentes, até mesmo emocionalmente inteligentes, porque de nada serve entregarmo-nos a uma paixão, às cegas, se não houver um mínimo de reflexão cuidada no sentido de nos precavermos com base no conhecimento adquirido em experiências anteriores. A nossa paixão última deve ser, tendencialmente, a nossa vontade de viver e de experienciar. Experimentar antes, por vezes a medo, para depois reflectir um pouco e dar o salto certo, em equilíbrio, no momento oportuno. Não há tempo útil de vida para pensar demais, mas também não podemos agir constantemente de forma imprudente e infantil, há que crescer primeiro. De entre o muito lixo que eu acumulo na minha mente, as ligeiras barbaridades que regurgito, bem como as simples teorias que componho de forma inocente, como quem faz um jingle, escolho uma frase da minha autoria para acrescentar às frases e clichés referidas por filósofos, pensadores, simples observadores ou gente comum: “queima as tuas asas ao sol e não dentro do teu casulo” – sim, porque há espaço para todos arrotarem as suas postas de pescada nesta sociedade pluricultural e aberta, vivemos em democracia certo?, então gozemos dessa liberdade tão fundamental e primária – Há um tempo para observar, experimentar, crescer… e viver! Bem visto, bem medido, bem equilibrado, há tempo para tudo. Agora em relação à questão da dicotomia. Uma vez que não entendemos o sentido da nossa vida pessoal, proponho que se tome como correcto (não necessariamente verdadeiro) o facto de haver inexoravelmente um sentido de vida maior e superior à nossa existência individual. O conjunto de todas as vivências humanas cria uma base de dados maior, denominada de cultura ou conhecimento. Acima de todos nós, indivíduos, etnias e civilizações, está o sentido de existir enquanto um todo, e para isso existe a necessidade premente de partilhar informação e conhecimento. Sendo que, nos dias que correm se torna cada vez mais complicado organizar tertúlias, e o tempo nunca chega para dizer o que se tenciona, partilho agora convosco uma frase de um amigo comum, meu e de muitos os que visitam este blog, para dar os parabéns e as boas vindas a um novo projecto: “chose a life, faz um spam, publica um blog”.
Para saber qual o projecto basta clicar no título deste post e serão redireccionados para um novo blog feito em equipa, onde eu mui orgulhosamente me incluo.
1 comentário:
De uma coisa estou convicto: A vida NÃO É aquilo que nos acontece enquanto fazemos planos. É uma frase interessante, que visa mais do que nos clarificar acerca daquilo que é a vida, nos alertar para viver. E como nos fazem falta frases destas, no entanto, reafirmo, tal não será uma boa definição de vida. :))
Bom, mas para a questão da dicotomia entre "pensar numa vida" e "viver uma vida"; Para a dicotomia entre "sonhar com uma vida" e "viver um sonho"; e se for nesse sentido ao qual te referes à dicotomia, então, devo dizer-te que me lembrei de imediato de uma frase de Vergílio Ferreira que diz, mais ao menos o seguinte: Cada um de nós é, de facto, dois. Aquele que é, e aquele que gostava de ser. E assim também poderíamos traduzir a nossa vida. Não apenas com aquilo que é, mas também com aquilo que pensamos dela e nela, desfazendo-se, talvez assim, a dicotomia.
Investiguemos pois esta questão, e outras, porque eu procurarei sempre a prateleira toda. ;)
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