terça-feira, 25 de julho de 2006

Adizeres alentejanos, parte I

Qualquer alentejano que se preze conhece e dá uso a um dos mais interessantes adizeres que a cultura alentejana já produziu. Mas antes disso, começo por definir o conceito de “adizere”: expressão que se verbaliza num estabelecido momento, para produzir um determinado efeito. E agora o adizere propriamente dito (perdoem-me a redundância): “mais vale fazer mal do que sobrar”! Será que isto significa que os alentejanos são somíticos, mãos de vaca, não deixando sobrar seja o que for? Será uma forma de fomentar a gula e a perversão? Ou antes uma postura para delimitar e reduzir todo e qualquer excesso? Parece-me, sinceramente, ser um costume parecido com tantos outros, como arrotar depois de uma boa refeição, ou ter de deixar os sapatos à porta e andar descalço pela casa fora, próprio de uma cultura forte e milenar – pelo menos já vem desde o milénio passado! Acho, francamente, que é uma forma disciplinadora e de mentalização para contrariar outra grande máxima: “tens mais olhos que barriga”; e mais uma forma de usar uma outra expressão: “ajoelhou, vai ter que rezar”. Ou seja, foste um autêntico brutana a encher o prato de cagulo, agora ficas-te com essa e comes tudo que nem um bácoro.

3 comentários:

Anonymous disse...

Já agora o adizer que mais gosto ( e este obviamente não é alentejano mas d'alentejano) é " mais vale uma mão inchada que um'inchada na mão!!!"
E já agora, o sentido da citada "ajoelhou..." não é propriamente o do post.
C

Paulo Sempre disse...

Ser alentejano é fazer amor com a terra. É cantar ao Sol as searas ensanguentadas. Mas é aqui, onde os jardins t~em morada incerta, que as flores são associadas aos sacrifícios e aos filhos perdidos...
Esta terra - Alentejo - é uma sinfonia de fel e sonho, outrora esquecida pelos rios. Hoje banhada por lágrimas. No peito de cada homem baila o desejo de ser pássaro, uma fantasia de Sol onde o sonho nunca deixou de brilhar.
Vamos nós saindo pelos campos fora..até ao romper da aurora...
Gostei do teu blog.
Vou voltar
abraço
Paulo

Gandim disse...

BEMMMM, não desfazendo noutros, isto é que são comentários de luxo! Este blog talvez até mereça, e é com muito prazer que leio todos os comentários, mas com especial gozo para poemas e músicas (como já aconteceu). O Alentejo não é só um espaço físico, é uma cultura, sem dúvida, mas também um estado de alma, uma postura e uma "estranha" forma de vida. Eu tenho bastante orgulho em pertencer a este cantinho e fazer parte dele.
Em relação à questão do "ajoelhar", pois bem, claro que sei, mas eu gosto sempre de avacalhar e borrar um pedacinho a pintura sempre que posso! ;)
abraços