terça-feira, 24 de março de 2009

As velhas põem-se doidas, parte 3

Ainda estou para saber qual era a probabilidade de vir morar para uma casa com quintal, que tem, tanto de um lado como do outro, as duas velhas com as vozes mais irritantes de todo o sistema solar? Uma tem uma voz rouca, aguda e assustadoramente desafinada, a outra tem uma voz distorcida, tipo high pitch, altamente dissonante e que mais parecem duas vozes ao mesmo tempo, num estranho e desarmónico equilíbrio tímbrico. E quando se juntam a falar alto (entenda-se gritar!) de um quintal para o outro? E quando isso acontece logo de manhã enquanto estou no quintal do meio a estender roupa, ou no quarto com a janela aberta e a tentar dormir o que resta da minha manhã primaveril? E se a isto tudo juntarmos uma inusitada conversa à volta do seu tema predilecto!? Acho alguma piada quando as velhas, num contexto genérico, se juntam na conversa e o assunto acaba por ir dar sempre ao mesmo: as doenças! Até podem ser mais de uma dezena, mas acabam sempre por agrupar-se duas a duas – até basta serem só duas para fazer estragos – e tornam-se extremamente competitivas com o escalar da discussão e o evoluir da argumentação:
- “Tenho andado tão aflita com esta gripe que aí anda.”
- “Gripe? Quem me dera a mim ter gripe, trocava a minha espondilose pela sua gripe em qualquer altura!”
- “Espondilose!? Txiii… para isso basta a minha ciática, que tanto me apoquenta nesta altura do ano!”
- “Ai não! Trocava o bócio que me aflige há mais de vinte anos por essa ciática, todos os dias e duas vezes ao domingo!”

…e a coisa vai progredindo até uma delas decidir que tem de ir fazer o almoço ou um dos maridos, corajosamente, se intrometer para chamar a atenção para um telefonema da filha, algo que tenha a ver com comprimidos ou o resto do programa da Fátima Lopes. Se num contexto geral tudo isto poderá conter algum sainete, garanto-vos que se tivessem que aturar isto de vez em quando, e bastava uma vez para ser uma vez a mais, não iriam achar qualquer réstia de piada. Um dia destes compro uma casota para pássaros, penduro-a num dos varões do estendal da roupa, mesmo no campo de visão de ambos os quintais adjacentes e convenço-me a adoptar uma ratazana vil e corpulenta como animal de estimação. É que as velhas põem-se doidas!!

(Parabéns pai, este post dedico-o a ti)

relembro:
As velhas põem-se doidas, parte 1
As velhas põem-se doidas, parte 2
O fenómeno do capacete
Velhos, porra frita e mercas para todos

Sem comentários: