quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Concertos revolucionários do camandro

Continuando na senda da música e da forma como me tem vindo a talhar como pessoa e músico, agora passo aos concertos. Fiz uma lista dos que mais me impressionaram pela surpresa ou exactamente por estarem ao nível das mais altas expectativas. São todos concertos a que assisti ao vivo…

Trovante – junto ao Templo Romano em Évora
não faço puto de ideia de quando terá sido, mas lembro-me que o meu pai ainda podia comigo ao colo; já ligava à música e já ouvia Beatles e James Taylor com a minha mãe, mas aquele concerto foi uma experiência interessante e marcou-me

Chico Baião e os Ortigões, 1994 – Feira de São João em Évora (Jardim Público)
o palco era pequeno, os instrumentos sugeriam uma banda de rock e aparece um tipo de boina alentejana e samarra a apresentar a banda; pensei que fosse alguém da organização mas não, era mesmo o Chico! Enquanto falava um pouco sobre ele e a banda, entravam os outros músicos e começavam a tocar; despiu a samarra, pegou na guitarra Fender Stratocaster velha e desgraçada, já sem tinta em algumas zonas, e dá um acorde poderoso; antes de dar o segundo acorde tira a boina e deixa cair um cabelão até ao cú e solta um grunhido… para alguém que nunca tinha visto muitos concertos ao vivo e andava a começar nas lides musicais, este foi um momento inesquecível!

Pedro Abrunhosa & os Bandemónio, 1994 – tenda de circo no Rossio em Évora
foi um concerto fora de série, curti tanto que mais 1 tema num dos encores e rebentava; foi o primeiro concerto em que dancei e saltei quase até cair para o lado, não me lembro de ter suado tanto noutra altura

Archie Shepp, 1997 – Teatro Garcia de Resende em Évora
foi um bom concerto mas acabou por me marcar mais a postriori porque ele morreu passadas 2 semanas e foi, tanto quanto consegui perceber na altura, o último concerto que deu

U2, 1997 – antigo Estádio de Alvalade em Lisboa
na altura gostava muito deles, muito por causa dos álbuns Achtung Baby e Zooropa; era uma banda interventiva e os seus concertos eram “diferentes”; gostei do concerto mas marcou-me mais por ter sido o primeiro concerto de estádio e senti pela primeira vez o poder da multidão; na altura estava no primeiro ano de Sociologia e os comportamentos de massas era algo que me atraía bastante

Lou Reed, 1998 – Expo98 em Lisboa
nem preciso referir a sensação que é ver um tipo destes ao vivo; foi um belo concerto

Ornatos Violeta e Clã, 1998 – recepção ao caloiro em Évora (antigos pavilhões de lata no Rossio)
já conhecia todos os temas das duas bandas e lembro-me que foi um concerto memorável, embora o local fosse um autêntico e literal esterco; aquele solo brutal do Helder Gonçalves que durou mais de 7m e utilizou tudo quanto achou no palco para encostar às costas e fazer soar o seu baixo piccolo

Sérgio Godinho, 1999 – 25 de Abril na Praça do Giraldo em Évora
por esta altura já gostava muito das músicas dele, que são difíceis de engolir, algumas delas, e lembro-me de me ter sentido nas nuvens quando ouvi “A Noite Passada” com o amor da minha vida nos braços e de me ter cantado em grupo com muitos dos meus amigos o tema “Com um Brilhozinho nos Olhos”, que cantámos sempre nas festanças (“é que hoje fiz um amigo e coisa mais preciosa no mundo não há”)

Sheryl Crow, 1999 – Praça Sony em Lisboa
a Sheryl Crow marcou-me logo com o álbum de estreia e passei anos a segui-la à espera que viesse a Portugal; não foi um concerto espectacular, mas esteve à altura das expectativas, que eram elevadas, e correu muito bem; com belíssimos músicos a acompanhá-la

Ben Harper & The Innocent Criminals, 2000 – Coliseu dos Recreios em Lisboa
absolutamente extasiante! Brutal!!! Aquele solo final e a guitarra a soar durante os 20m que demorou até sair toda a gente foram inesquecíveis

Carlos Martins Quinteto, 2000 – Teatro Garcia de Resende em Évora
Quem? Não interessa, os músicos eram: Bernardo Sassetti (piano), Carlos Barreto (contra-baixo), Alex Frazão (bateria), Mário Delgado (guitarra) e o Carlos Martins (sax)… need I say more?? Aquele solo de bateria só em pratos que o Frazão fez durante mais de 8m, foi algo transcendental e memorável! Só de pensar que o tinha visto com o Abrunhosa uns anos antes e nem sabia quem ele era!? eheh

Caetano Veloso, 2000 – Coliseu dos Recreios em Lisboa (2ª noite)
a recepção que o público lhe fez foi algo que nunca mais vou esquecer… até me arrepio enquanto escrevo isto! O concerto durou sei lá quanto tempo, mas foram quase 3h de certeza; um dos percussionistas fazia anos e foi uma festanças do princípio ao fim com toda a gente a dançar sempre que o tema o permitia e alguém estava sem tocar ou podia mexer-se com o seu instrumento; houve um momento no meio, em que ele estava sozinho em palco com a guitarra e deixou ser o público a escolher os temas para ele tocar, “momento” durou mais de 30m e foi um belo presente que ele nos deu com música e conversa

Joe Cocker, 2000 – Pavilhão Atlântico em Lisboa
muito, MUITO BOM! Fiquei completamente estúpido com o poder da sua voz, principalmente com a idade que já tinha na altura; o “With a Little Help From My Friends” foi incomensuravelmente memorável como nem consigo descrever…

Rui Veloso, 2000 – Pavilhão Atlântico em Lisboa (aniversário de 20 de carreira)
foi um concerto fora de série e difícil de descrever; os solos dos temas “Jaime” e “Todo o Tempo do Mundo” ficaram-me gravados na memória como brasa na carne, ao nível do melhor do Guilmour, brutal!!

Jorge Palma, 2001 – Fábrica da Música (inauguração)
o único concerto que consegui ver até ao fim do Palma, e que concerto!! A solo. Já tentei outras 6 vezes e só aconteceu mais uma vez em que eu estava tanto ou mais bêbado do que ele, numa queima das fitas em que ele tocou com os Jindungo

André Indiana, 2001 – Vilar de Mouros
a prova de que o Rock não está morto, grande concerto! Mais tarde abri um concerto dele com a minha banda, os WHY

Neil Young & Crazy Horse, 2001 – Vilar de Mouros
e por falar em Rock não estar morto!? Muito bom!

Gabriel o Pensador, 2001 – Festival Viv’a Rua, Praça do Giraldo em Évora
longe vão os tempos do saudoso Viv’a Rua… um concerto fantástico e que, horas depois, o levou a fazer o filho que tem hoje, tal como veio a revelar noutro concerto que vi dele na Festa do Avante; um bêbado subiu para o palco para estragar a cena e ele conseguiu pô-lo a cantar, todo divertido e resolveu a questão como um Pro (viver nas ruas ensina muita coisa)

K's Choice, 2002 – Coliseu dos Recreios em Lisboa
mal eu sabia que viria a ser uma das minhas bandas preferidas, pois na altura só conhecia o álbum “Cocoon Crash”. Simplesmente fantástico!

Supertramp, 2002– Pavilhão Atlântico em Lisboa
belíssimo! mais um concerto de uma banda mítica

Roger Waters, 2002 Tour in The Flesh – Pavilhão Atlântico em Lisboa
para quem nunca teve a oportunidade de ver Pink Floyd ao vivo, e principalmente para quem não conhecia nada de Waters a solo, foi a surpresa da minha vida!!! Magnífico!! até hoje, o único concerto que me soou bem no Atlântico!

Robert Plant, 2002 – Aula Magna em Lisboa
lembro-me do som estar tão alto que até doía, mas depois de tapar os ouvidos com pedaços de lenço-de-papel (a primeira vez que me lembrei de tal coisa), o resto foi sempre a curtir; belo concerto!

Mafalda Veiga, 2002 – jardins do Hotel da Cartuxa em Évora
o ambiente e a acústica eram absolutamente esmagadores, ali na relva, entre o edifício do hotel e a muralha medieval; como sempre fui teimoso e algo preconceituoso, este concerto foi uma revelação fantástica porque só conhecia o tema “Pássaros do Sul” e fiquei completamente absorto durante todo o concerto, cheguei ao fim em estado de KO

21st Century Doors, 2003 – Pavilhão Atlântico em Lisboa
ganhei um prémio da Radio Comercial que consistia no seguinte: jantar à lorde, limousine até ao local, concerto em camarote vip, sessão fotográfica e de autógrafos com os músicos nos bastidores, limousine até ao hotel, noite no Sheraton; nada mau! O concerto foi uma coisa do outro mundo; o Krieger parecia um puto, o Manzarek estava a curtir como se não houvesse amanhã e o Ian fez um tributo memorável ao Jim Morrison sem desiludir ou desprestigiar; ficou para a história!

Maria João e Mário Laginha, 2005 – Feira de São João em Évora (Jardim Público)
não foi o primeiro concerto que vi deles, mas foi o melhor! A voz da Maria João é uma força da Natureza e o Laginha é um colosso no piano

Queen, 2005 – Estádio do Restelo
belíssimo concerto, pena que o John Deacon não queira participar nesta nova fase da banda; o Paul Rogers tem um vozeirão do camandro!

Dave Matthews Band, 2007 – Pavilhão Atlântico em Lisboa
um concerto completamente fora do normal que durou 3 fantásticas horas; pena o som ser tão mau! só quando voltei a ouvir o concerto em cd é que percebi o que ele dizia durante as músicas; uma banda do caralho!

Clã, 2008 – Teatro Garcia de Resende em Évora
depois de Roger Waters, este foi o melhor concerto que já vi… uma coisa sem explicação!!

Fato/Feto e The Ballis Band, 2008 – Arena de Évora
duas belíssimas bandas de Évora com um potencial incrível; faço-lhes publicidade sempre que tiver oportunidade. ;)

Extreme, 2008 – Pavilhão Atlântico em Lisboa
belo concerto!! mas lá está, mais uma vez tive de recorrer ao belo do lenço-de-papel porque não aguentava o volume

James Taylor 2009 – Hipódromo de Cascais
este ano não tive oportunidade de assistir a muitos concertos por causa do meu joelho e da recuperação da operação e no ano passado dei um número considerável de concertos com a minha banda (Kazoo Love Orchestra) que nem pude ver muitos outros concertos além das bandas que actuavam nos mesmos locais que nós, mas este serviu para preencher essa "falha"... foi o concerto que mais me tocou e o segundo que me levou às lágrimas. Foi uma coisa de outro universo! BRUTAL!!


Em Primeiríssimo lugar exequo no Top Dos Melhores Concertos de Sempre estão: Roger Waters, James Taylor, Dave Matthews Band, The Doors (entenda-se 21st Century Doors) e Clã. Não consigo colocar nenhum à frente ou atrás, apenas sei que estes estão acima de todos os outros a que assisti. Mas também, que importa!? O que verdadeiramente interessa é estar lá, seja bom ou mau, mas também se compreende que é difícil ver muita música ao vivo porque infelizmente neste país se gasta um balúrdio para ver concertos. É pena!
Ainda assim há muita coisa que nos passa ao lado em bares, cafés-concertos, anfi-teatros e auditórios um pouco por todo o país. Neste sábado passado vi um concerto muito interessante de uma banda da Biolorussia, os Gurzuf, que hoje voltaram a actuar nos Celeiros em Évora. Convém ir quando nos apercebemos que há alguma coisa que se possa revelar interessante e até surpreendente e não deixar de aceitar convites quando nos são propostos por gente que faz boa companhia.

3 comentários:

Anonymous disse...

Realmente já começas a ter uma grande panóplia de concertos, a grande maioria tenho pena de não os ter visto, sinceramente tens grupos que nunca iria ver, ou que nem sequer conheço bem, mas a maioria desses concertos, sei que foram bons...
só te falta ai um concerto de Tony Carreira, do Toy e do Emanuel ;)
E os Why? Ainda existem?

Gandim disse...

os únicos concertos de música Pimba a que assisti foram 2 de Quim Barreiros, à distância, que é como quem diz "estava no recinto da queima das fitas e encharcar-me em cerveja e a desejar que a tortura acabasse rapidamente", sendo que no final de um deles (no Jardim do Granito) os músicos da banda ficaram a tocar mais 2 temas de rock/funk e foi uma surpresa muito agradável... bons músicos! ...e um de 2 raparigas novinhas que cantavam em playback, meio despidas, cujo manager era o pai e mais tarde quando ouvi a conversa que ele tinha para com elas, mais de manager sem escrúpulos do que de pai simpático, até fiquei doente e jurei para nunca mais. o mundo da música Pimba mete dó e não andará muito longe do universo da pornografia e prostituição...!

em relação aos WHY, acho que ainda existem mas só com o David, Turão e Rashid, eu e o André saímos da banda (em fases diferentes) e temos um projecto novo (nasceu em 2007) que tem tido bastante sucesso para um projecto que não se quer (até à data) profissional em nenhum aspecto e que mantém as características de uma banda de amigos: Kazoo Love Orchestra

já agora, quem és??

nuno disse...

Acho que vi esse do Sérgio Godinho em Évora, e foi muito bom. Estávamos numa altura em que a "malta nova" tinha "descoberto" a música dele.
Vi os Clã no Teatro Municipal de Faro em 2008, também. Foi o primeiro concerto que vi sentado (não incluindo os Madredeus ou o Rodrigo Leão), mas foi um espectáculo do caraças.
Quando ao Dave Mathews no Atlântico, é como dizes, o som daquela sala é uma porcaria, mas foi um grande concerto, com cerca de 3 horas de duração. Havia uma excitação geral no ar, por finalmente podermos ver aquela malta ao vivo. Memorável!
Se tiveres oportunidade, vê um concerto do David Fonseca e repara como ele sabe que estar no palco é mais do que "apenas" tocar e cantar.