sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Norte, lenha e gente doida

Então tomem lá outra história meio chanfrada mas verídica...

Aqui há uns anos, estava eu a passar o ano em Sortelha com uns amigos, quando se passou um dos episódios mais insólitos que já testemunhei na primeira pessoa. Interessa saber que alugámos uma casa para 8 pessoas e tínhamos lenha e uma cozinha industrial à nossa inteira disposição; normalmente, quando chegávamos a casa (foram vários dias) já tínhamos a lareira acesa e 1 ou 2 baldes de lenha à porta para a alimentarmos durante a noite. Na noite da passagem de ano acabou a lenha mais cedo do que nas noites anteriores, que também elas tinham terminado a horas mais decentes, e aqui o yours truly ficou incumbido de ir procurar mais uns pauzinhos para manter a casa quente. Passados 3 minutos de busca, dei com um brutal monte de lenha mesmo encostado à parede traseira da nossa casa. Partindo do princípio que estava no terreno da casa – no Alentejo temos outra noção de espaço físico, terrenos, campo, hortas, etc. – limitei-me a retirar uns míseros 4 ou 5 pauzinhos (1º erro, ingénuo) de um monte que quase tinha a minha altura. Já tinha alguns entre braços quando me aparece uma criatura - pessoa, que isto não é um filme de terror… é de suspense! - aos berros do outro lado da rua, num 1º andar, proferindo a seguinte barbaridade:
- “Gatuno! Gatuno! Tá-ma’roubar a madeira!!”
Ao que eu retorqui, sem recalcitrar:
“Não, não! Tou só a tirar uns pauzinhos para a lareira” (2º erro, crucial).
Então não é que o velho saca de uma espingarda enquanto esbracejava violentamente à janela do prédio de dois andares, do outro lado da rua? – parece algo de loucos? esperem pelo final.
É óbvio que larguei tudo, pus-me a andar dali e desatei a correr para casa. Abri a porta repentinamente, ofegante e incrédulo e, enquanto retirava a chave do lado de fora da porta, disse:
- “Vem aí um velho louco atrás de mim por causa da lenha”.
Toda, mas TODA a gente se desatou a rir. Imaginem o cenário: tudo com os copos a jogar às cartas, tocar viola e a cantar e deparam-se comigo neste preparo... também eu me ria! Passados 15 segundos de risota batem violentamente à porta! Neste momento calam-se todos e até parecem acreditar que de facto algo de estranho se passava. O mais bêbado de todos ainda deu uma risada solta, mas depressa lhe passou a besana e pôs-se de pé. Depois de uns bons 20 minutos, a situação ficou encaminhada, com a ajuda do proprietário da casa alugada, mas não resolvida… festejámos até às 3h da manhã no pátio frente à casa, sempre com o olhar vigilante do velho na sua varanda do segundo andar do outro lado da rua e fizemo-nos à cama sem pensar na sequela. No outro dia de manhã, por volta das duas da tarde, não havia um pauzinho, uma casca ou sequer um aparo no local onde, na madrugada anterior, havia alguns 300€ de lenha. O velho insano, talvez ajudado por filhos, primos e sobrinhos – ai o que faz a consanguinidade – carregou orgulhosamente toda aquela lenha para dentro de casa, mais propriamente para a varanda do segundo andar, de onde tinha passado toda a noite a bispar o pessoal a divertir-se.

1 comentário:

Cristal disse...

Lindo, lindo!!! lol

A malta do norte, neste caso de Sortelha, gosta muito de puxar da caçadeira... já assisti a várias cenas também com o seu quê à filme!

ups! se calhar é porque sou de lá!

:)