segunda-feira, 11 de maio de 2009

Tríade Tuga-Xunga

Não sou, de forma alguma, preconceituoso no que à música diz respeito. No decorrer da minha vida pessoal e artística, algumas vezes cheguei a ser literalmente enxovalhado por amigos, devido a alguns gostos individuais mais peculiares e ousados. Por isso, dedico-me a explanar este tema sem a menor preocupação de poder parecer sectarista, parcial ou faccioso. A tríade José Cid, António Variações e Carlos Paião, quanto a mim, representa o ponto mais alto do mau gosto e da xunguíce nos meandros da música portuguesa. Claro que há que avaliar as coisas de forma contextualizada e tenho de admitir que o José Cid tem algumas coisas interessantes a solo, nos estilos Rock e Jazz (para quem não conhece, vale a pena explorar), que o António Variações era um artista muito à frente do seu tempo, quase um visionário (faltou o “quase”) e que o Carlos Paião… bem, esse não tem ponta por onde se lhe pegue! É um facto que há inúmeros exemplos de mau gosto no cardápio dos artistas e bandas portuguesas, como o Toni Carreira, o Toy e o Marco Paulo, na vala comum da música ligeira e romântica; os Heróis do Mar, os Pólo Norte e os Delfins, no monte de esterco que a Pop produz num ritmo altamente frenético; entre muitos outros e outras – relembro que os anos 80 foram demolidores de uma forma apenas comparável a uma avalanche de bosta de vaca a escorrer pelas escarpas da Serra da Estrela abaixo, deixando cidades como o Fundão e a Guarda atascadas em merda até aos segundos e terceiros andares de edifícios situados nas ruas mais baixas – já para não falar do mundo Pimba, que esse então é 100% pindérico a roçar o horripilante. Acho alguma piada às pessoas que dizem “mas o José Cid não é pimba, é kitsch!”… ora aí está! É que ser kitsch não abona em favor de nada nem ninguém. Kitsch é uma vivenda de imigrantes com um jardim cheio de gnomos iluminados, fontes com anjinhos que mijam água e ovelhas a pastar na relva; são os pilares de portão de quintal com águias, leões, dragões ou o Zé Povinho a fazer manguitos; o gosto das mulheres dos jogadores da bola, que abusam na roupa a dizer “Dolce&Gabbana”, nos tecidos tipo pele de leopardo e peças de mobiliário feitas de bambu; as gravatas do Artur Albarran; os programas televisivos da IURD; os espectáculos do Filipe LaFéria; as festas de aniversário da TVI; os cenários dos programas da SIC no tempo do Tomás Taveira; os edifícios do Tomás Taveira; o próprio Tomás Taveira; o Zezé Camarinha; o Carlos Castro; o João Baião… tanta gente por esse país fora. A lista é interminável e a questão é mesmo esta: o José Cid, o António Variações e o Carlos Paião, cada um com o seu contributo importante na divulgação do kitschismo musical por esse mundo fora (sim, há japoneses que veneram José Cid e sabe-se lá se não há povos na Polinésia que até curtem o “Pó de Arroz”!?) são o ponto máximo, ou mínimo, do mau gosto. O facto de estarem na moda, que não me interessa minimamente, porque felizmente deixei de ouvir rádio quando a playlist passou a dominar a programação das estações que eu ouvia até então e também porque raramente vejo televisão para além de filmes, séries e documentários, não quer dizer absolutamente nada, A moda não tem significado prático para quem tem dois dedos de testa e normalmente os fazedores de moda vivem e alimentam-se de tudo o que é kitsch tal como um vegetariano se sustenta com soja e derivados. Cada um gosta do que gosta e eu também terei o meu piquinho a azedo em termos de gosto individual, mas há uma ideia que sobrevive a toda a argumentação e que deveria ascender a Lei Universal: independente do estilo há coisas boas e coisas más e por algum mérito que a música destes três senhores tenha e por mais hordas de fãs e seguidores me tentem convencer que são do melhor que há na música portuguesa, não consigo acreditar e sentir isso dessa forma e peço publicamente que não me moam mais o juízo com este mote porque estou a ficar saturado. Eu já vivo constantemente aterrorizado com a ideia de alguns temas destes e de outros senhores serem versionados em estilo orquestral tipo Richard Clayderman e acabem a passar em todos os elevadores deste país e eu não consiga deslocar-me na vertical sem ter de utilizar as escadas para ir onde quero. Continuo disponível para todo o tipo de conversa e discussões sobre qualquer tema…. menos assuntos que envolvam qualquer dos nomes referidos neste post ou obras a eles associadas. Nunca vou ceder ao lado negro da música, NUNCA!!!

4 comentários:

RAFI disse...

E no entanto, começas o post por dizer que não és nada preconceituoso em relação à música.

Há saber cantar e ter voz.
O António Variações não tinha voz, e não sabia cantar muito bem (mas tresandava musicalidade)

O Carlos Paião não tinha grande voz, cantava medianamente. Mas fazia canções pop excelentes com melodias de se lhe tirar o chapéu. Algo que tu, utilizando uma expressão do vernáculo político recente, só com muita papa maizena pela frente poderás vir a almejar.

O José Cid tem uma grande voz (embora já longe dos tempos de outrora, enfim caminha para os 70), mas sabe cantar fabulosamente bem.

O José Cid é capaz de coisas muito más. Contudo, tem momentos nada menos que geniais.

(Já agora, a título de comparação, o Herman não tem grande voz, mas canta bem).

O Manuel João Vieira dos Ena Pá 2000 tem uma grande voz e canta bem. Mija em palco, que é algo que o Carlos Paião nunca ficou famoso por fazer.

Gandim disse...

Exacto, não é preconceito, é conceito a postriori... de quem conhece o trabalho de cada um dos 3 artistas em questão!
Têm "algum" mérito, até descrevi (não em detalhe) qual e são todos kitsch, o q não é mau, é péssimo!!

O Manuel João Vieira é o verdadeiro artista que usa o talento para gozar com o q é kitsch e expôe o ridículo de uma forma visceral e bizarra (q eu tb questiono e de q maneira, mas atenção q eu não gosto muito de EnaPá 2000, ao vivo são horríveis, e adoro Irmãos Catita, q são geniais!).

Acabo com uma frase q merecia ser inserida num bolinho da sorte chinês: ainda q se cheire a merda, pode-se sp tomar banho e ficar limpinho... contra factos, não há argumentos!

Gandim disse...

se bem me lembro, a falta de voz ou os menores dotes vocais não retiram...

ao Manuel Cruz o mérito de ser um dos compositores mais fantásticos de sempre neste país e em geral (e ainda é um gaiato, atenção!)

ao Pedro Abrunhosa um currículum musical de se lhe tirar o chapéu

ao Tim o brilho tendo em conta o que fez nos Xutos&Pontapés e a solo

ao Rui Reininho o estatuto de fazer parte da banda Pop q mais se destacou neste país

ao Chico Baião o toque místico q impunha em concerto e um pouco em todas as músicas q compôs e q tanta gente toca (incrível como é q há tanta gente por esse país fora e estrangeiro, q conhece os Ortigões... bem hajam os universitáios e os programas Erasmus!)

A voz não é a coisa mais importante numa banda ou até num vocalista. A energia, a interpretação, a performance sim!

Nenhum dos 3 senhores acima mencionados, e q deram mote ao post, faz alguém verdadeiramente humano e sensível arrepiar-se ao ouvir as suas músicas!
Têm o seu mérito, tiveram o seu tempo, ganharam o seu espaço, sem dúvida, mas quantidade nunca fez qualidade, assim como o que é média ou moda não é, necessariamente, o que é melhor e a música deles ficará sempre avaliada em valores que roçam o mediocre.

Anónimo disse...

Sabem que o Zé Cid não usa cuecas e se borra em palco?