sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Funcionalidade, sossego e alter-egos

Respondendo aos comentários gerados pelo post anterior, achei que ficaria melhor em formato de novo post.
Nestes últimos anos apercebi-me que a melhor forma de sermos "funcionais" em alguns contextos, principalmente em termos profissionais e até com certas pessoas a nível social, é de certa forma escondermos o que somos realmente e deixarmos - ou fomentar, dependendo do momento e situação - a projecção e influência da nossa imagem abrir caminho à nossa frente, como se de um amigo a afastar gente a pulso numa multidão se tratasse. Com algum jogo de cintura até nos vamos conseguindo tornar mais profissionais, confiáveis e até verdadeiros no nosso percurso, mas sem dúvida que requer muito traquejo e aquela patine tão pouco natural na nossa consciência. Com o decorrer do tempo, considero que mudei, amadureci e hoje sei que devo ser egoísta para estar melhor, para ter paz de espírito e até para ser feliz, mas é um egoísmo interessado, não interesseiro! (faço-me entender!?)

Quem me conhece narra-me como sendo genuíno e verdadeiro - mesmo mudando tantas vezes de opinião, o que continuo a achar tratar-se de uma característica positiva, dado que não me custa muito dar o braço a torcer a quem quer que seja, uma vez que quando mudo é para melhor, logo, compensa - mas a que preço!? Custa e desgasta bastante, só se tornando positivo quando analisado o rácio custo-benefício e normalmente só quem está mesmo perto reconhece e dá valor a isso. Os outros, bem...

Invariavelmente quem tem uma postura mais séria e regular, não necessariamente cinzentona, arriscar-se a ser rotulado de arrogante ou distante, o que muitas vezes acontece comigo, mas confesso que em nada me incomoda, pois só acontece num primeiro instante ou à distância e nem a toda a gente vale a pena dar-me a conhecer. Não que não importem, com certeza interessam a alguém, ou até a muita gente, mas não são relevantes para o meu percurso... e era exactamente aqui que queria chegar!

Num dos comentários, aparecia escrito: "sê superficial, mas sem faltar à verdade, com os outros que passam na tua vida sem deixar marcas".

Parte de nos tornarmos adultos, seja lá em que momento da vida isso possa acontecer, ou não, até porque se pode de certa forma evitar e contrariar esse processo quase inevitável, consiste em compreender e aceitar que não somos donos, em parte, do nosso destino - ou da sua totalidade, diriam alguns - por mais que se orientem objectivos num ou mais sentidos ou até deixando andar a vida ao sabor do tempo; que não somos imortais e o quanto isso tem de real em si mesmo, em nós próprios e a cada dia que passa; e que muito provavelmente não deixaremos grandes marcas neste mundo ou na sociedade em geral - confesso que detesto o triste postulado de Warhol. Apreendemos tácticas e todo o tipo de manobras de diversão com o objectivo de afinar a nossa maneira de estar, tendo como desígnio último a tão importante obtenção de sossego de espírito, conseguindo, de forma mais ou menos penetrante, ser nós próprios. Mas será que com tanta curva e contra-curva no traçado sinuoso que vamos riscando social e profissionalmente acabamos por atingir essa meta ou estaremos, assim, designados ao curioso e atraente esboço de uma ou mais versões de nós mesmos? E a ser esse o cenário, poderemos melhorar continuamente os defeitos perniciosos da nossa original individualidade ao darmo-nos de forma tendencialmente harmoniosa com os outros ou as reverberações cabalísticas da nossa essência teimam sempre em borrar a pintura dessas versões alternativas do nosso Ego?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Felicidade, razão e verdade

Ser feliz ou ter razão?
«Oito da noite, numa avenida movimentada. O casal já está atrasado para jantar em casa de uns amigos. O endereço é novo e ela consultou as indicações e um mapa antes de sair. Ele conduz o carro. Ela dá as orientações e pede para que vire na próxima rua à esquerda. Ele tem certeza de que é à direita. Discutem e, percebendo que além de atrasados, poderiam ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida. Ele vira à direita e percebe, então, que estava errado. Embora com alguma dificuldade, admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz inversão de marcha. Ela sorri e diz que não há problema de maior se chegarem uns minutos atrasados, mas ele ainda pergunta:
- se tinhas tanta certeza de que eu estava enganado, devias ter insistido mais...
E ela diz:
- entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz! Estávamos à beira de uma discussão e se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite!»
Moral da história: esta pequena história foi contada durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho e foi usada cena para ilustrar a energia que gastamos apenas para demonstrar que temos razão, independentemente, de a ter ou não. Outra frase semelhante diz: "Nunca se justifique. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam".

Recebi esta história por email e a princípio até achei alguma piada. Não só por ser, talvez, verídica, por ser aplicável a N situações do dia-a-dia mas principalmente porque parecia fazer sentido. A questão que se coloca como consequência lógica - ou não, se calhar sou eu que sou mesmo esquisito - é que o mesmo se pode dizer de "ser-se feliz ou saber a verdade?"

- se alguém mentiu por nós, dará jeito saber?

- se houve a quem contámos um segredo em estrita confidência, com base na confiança e respeito mútuos que temos com e por essa pessoa e em nosso benefício o revelou... será importante termos a noção disso?

- se somos traídos pela(o) nossa(o) companheira(o) e ela(e) tem essa realidade completamente resolvida, tendo sido só um caso pontual e inteiramente justificável, será que é melhor sabermos?

- se terminámos a licenciatura com um 10 na última cadeira, daquelas que levou anos e vários exames para a dar como feita, só porque alguém intercedeu em nosso favor; será fulcral termos acesso a esse dado?

- se conseguimos aquele emprego de sonho, no qual seremos esforçados e competentes, estando decidida e unilateralmente motivados, principalmente porque um familiar ou amigo usou uma cunha, mesmo sabendo que seriamos incapazes de tolerar tal atitude; será decisivo termos consciência disso?

Desde que vi filmes como o What is The Matrix, Fight ClubAmerican Beauty, Vanilla Sky ou o V For Vendetta, entre outros, que me debruço sobre estas questões e a frase "ingorance is bliss" não me sai da cabeça! Para acrescentar a isto, ouvi em tempos uma expressão fantástica de um amigo meu que me trouxe ainda mais confusão: "a felicidade não é estúpida, a estupidez é que é feliz". Se a isto tudo acrescentarmos a realidade em que vivemos nos dias de hoje, a actualidade política, económica e social, o facto da nossa imagem alegadamente valer mais que o nosso interior, pelo menos à partida e na grande maioria dos casos, e de se dar prioridade à forma em detrimento do conteúdo, em que pé é que ficamos!?
Será possível e exequível atingirmos a tão desejada e necessária Paz de Espírito que norteia e baseia a Felicidade se, ainda que mantendo uma atitude positiva, tivermos acesso a tudo o que está por detrás da cortina, no fundo da toca do coelho e por detrás do espelho!? Existirá magia sem ilusão? Haverá sentido sem imaginação? E os nossos sonhos não serão, na sua maioria, inquietantes pesadelos!?
Não é fácil ser-se adulto, não é simples atingir-se o suposto e desejado grau de maturidade e não é de todo evidente e acessível o processo que nos leva a alcançar a resolução das coisas em nós mesmos.
Hoje não há respostas, dicas ou interpretações especulativas. Desta vez deixo tudo em aberto para a reflexão individual e o debate comum...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Apelo, grito de guerra e cães pulguentos

Quero deixar aqui uma apelo público e sincero a todos os que enviam emails, com ou sem powerpoints, e sejam lá eles em brasileiro ou chinês, com conteúdo duvidoso a pedir no final para eu reenviar a sei lá quantas outras pessoas, sob pena de ter todo o azar do mundo, perder o tacto ao amor, ao jogo e até eventualmente me cair a pila ou os lóbulos das orelhas que cessem esse tipo de actividades terroristas. Estou farto e ao 2º email do género, assinalo-vos como SPAM! Sinceramente, mais vale irem comer um cão cheio de pulgas... isso é coisa que se faça a um amigo? Desejar assim o mal!?!? Mandem-me emails com mp3, vídeos interessantes, fotos de gajas nuas ou todo o tipo de parafernália em jeito de "Portugal no Seu Melhor", que até ver parece ser um tema inesgotável, mas por favor não me enviem bacoradas com anjinhos da sorte, ursinhos do amor, karmas do destino ou frases enigmáticas e premonitórias que só me dão vontade de regurgitar o pequeno-almoço para cima do teclado e depois é uma real chatice limpar entre as teclas. Por favor!!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Simplex, dificultex ou somente complex!?

Pode não parecer, mas o tuga gosta mesmo é de complicar as coisas, atravancar os espaços e dificultar a sua vida ao máximo, quase a roçar o insuportável. Porque de outra forma não dá gozo, seria menos colorida e tornava-se quase banal, ora por aqui a malta quer tudo menos o que é normal!

Escadas de prédio sem nada ou uns centímetros de parapeito na janela? ...vá de vasos com fartura!

Um corredor, ainda que assim para o estreito mas com aspecto de que está vazio? ...não é bem Feng-Shui, mas colocar um armário, uma cómoda ou uma mesa corrida sempre compõe o espaço!

Uma varanda só com meia dúzia de floreiras? ...é o espaço ideal para uma carrada de lenha, que sempre fica perto da janela da sala!

128 manobras para estacionar o carro intra-muros, bem juntinho à porta de entrada da casa? ...é sempre melhor do que deixá-lo na rua!

Um pedacinho de terra no quintal? ... dá para ter umas couves, ervas aromáticas e uma palmeira, que leva tempo para caraças a crescer e depois só dá sombra praticamente para o seu tronco e é difícil como o raio passar a corda da rede para as sestas, mas dá um toque exótico e sempre fica mais alta do que o limoeiro do vizinho!

Uma praia cheia de gente, com pouquíssimo espaço para esticar a toalha e estar à vontade? ...qualquer pedaço de areia serve para abancar com a família, colocar 3 guarda-sóis, 1 daquelas "cortinas" anti-vento e 9 toalhas meio enroladas, espalhadas à volta a fazer uma espécie de forte, quase a lembrar a Vivenda Silva lá da aldeia, cadeiras de braços para os adultos e bancos da pesca para as crianças, 4 arcas frigoríficas, 5 alheiras, 2 garrafões de tinto e cerveja à descrição e o dia todo a cuspir sementes de melancia de papo para o ar a dizer palavrões e mal do governo!

Ser tuga não é fácil! É assim uma espécie de arte performativa e quase quase uma ciência!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Comer, andar e rir

Ontem ouvi esta frase no programa de rádio da manhã, na rubrica do Júlio Machado Vaz, em jeito de receita para a felicidade:

- "comer metade, andar o dobro e rir o triplo"

Subscrevo parcialmente! Mudava para "comer melhor, preocupar metade..."

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Política, pano para mangas e lona dos bolsos

Orçamento de Estado para 2011... hum!? Só me ocorre o seguinte pensamento:

- a insanidade ainda não paga IVA mas a filha de putíce devia ser tributada em sede de IRS

Ponto!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Supermercados, simpatia e misticismo

Noutro dia fui às compras e, quando estava na charcutaria perguntei à sra. do balcão:
- "Desculpe, não se importa de cortar o fiambre em fatias mais grossas'"
Ao que ela respondeu:
- "Mas olhe que com fatias mais finas leva mais fiambre para casa!"
E eu retorqui:
- "Olhe que não, porque acabo por ter de pôr mais fatias na minha mística!"
Duplamente espantada, a sra. pergunta.
- "«Mística»? «mais fatias de fiambre??», porquê!?"
Repliquei:
- "As minhas tostas são todas assim para o místico, principalmente porque levam fiambre mais p'ro grosso e queijo com fartura! Logo, se levar a mesma quantidade em fatias fininhas, gasto o fiambre em menos de nada e nem por isso sabem melhor. Faça-me esse favor, vá lá..."
A sra. riu-se e colocou de imediato o toro de fiambre no cortador para me fazer o jeito.
A simpatia e a imaginação fazem andar o mundo... dos supermercados, pelo menos!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

U2, tintol e Coca-Cola

Porra, alguém tem de dizer isto! Os U2 não são, nunca foram nem nunca serão a maior banda de Rock seja lá de que época ou área geográfica pudermos vir a considerar. São uma banda de Pop e pouco mais. Quanto muito de Pop/Rock, mas de Rock não são de certeza! Digo isto como ouvinte de música, como melómano, músico e até crítico de música. É claro que no panorama geral são uma grande banda, ou antes, já foram uma grande banda - agora são apenas e só uma banda grande em termos de logística e receitas de impostos - mas desde que começaram a debitar álbuns, uns atrás dos outros, baseados na mesma receita estafada (de sucesso, é claro, mas o público mainstream sabe lá o que é bom) que, para mim, perderam o interesse. Continuo a ouvir as suas músicas, têm um ou outro tema interessante por cada novo cd que lançam, mas já desde os tempos do Zooropa ou do Achtung Baby que não fazem música "nova", brilhante e reveladora. Já foram uma grande banda, já marcaram a diferença... agora são a maior fonte de rendimento de todo um país e pura e simplesmente não podem parar de tocar senão seria o caos na economia irlandesa, ainda para mais em tempos de crise. Ainda dão bons concertos? Não digo que não! Se calhar porque a maioria das pessoas gosta mais de efeitos sonoros e de luzes, da grandiosidade de palcos montados em estádios, de imagens em gigantescos videowalls, do pseudo-glamour de esperar noites acampados à espera de um bilhete que vale quase tanto como a reforma miserável de quem muitas vezes nem tem televisão para assistir aos fantásticos videoclips que os U2 têm a circular no VH1 ou na MTV, do que de música a sério. Sim, música a sério como os próprios U2 já souberam tão bem fazer! Estou cada vez mais farto da Lady Gaga e do seu vestido de carne crua, das pancadas da Cher, da 'imortalidade' da Madonna, das idiotices da Britney Spears, da falsidade do Eminem, da cambada de idiotas que são os gangster-musician-wannabes que há aos magotes pelos EUA, dos abutres que se alimentam da carcaça ainda meio morna do Michael Jackson, e de todo um exército de gente energúmena que acha que a música é barulho, chocar visualmente, incentivar ao consumo ou uma miscelânea de acordes, melodias e riffs batidíssimos misturados a martelo como o vinho que é feito na Suécia. Neste momento da minha vida, admito que gosto mais de cantares alentejanos e de vinho tinto do que de U2 e Coca-Cola!!