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domingo, 23 de fevereiro de 2025

Palavras irritantes, termos estranhos e nomes que não lembram ao diabo

Toda a gente tem palavras que lhes soam mal, que são profundamente irritantes ou assim mesmo... sórdidas!

Palavras como urinar, reclame, adstringente e nomes como Segismundo, Clélia ou Pancrácia estão no meu top de palavras a evitar. Quando as oiço sinto o equivalente a ver um animal morto na estrada. É assim um misto de tristeza a atirar para o nojo!

Depois há palavras que, em si, não me fazem espécie alguma mas que, dependendo da forma como são proferidas se podem tornar terrivelmente venenosas, como ouvir alguém dizer "treuze" ou "dezôito".

No filme Dumb And Dumber o Jim Carey diz "querem ouvir o som mais irritante no mundo"!? É isso, quase tão irritante como as pessoas que fazem rotundas por fora sem se dignarem a fazer piscas!

Mas recentemente apercebi-me que eu digo uma palavra que provoca perplexidade e até alguma irritação alheia: alérgias! Claro que sei que correctamente se diz alergias, porque se disser alergenos não digo alérgenos... mas quando preciso de dizer "alergias" acaba por me escapar um "alérgias!"

Epá, digamos que quando percebi isso - porque mo disseram, sozinho não chegava lá - levei um banho de humildade e a minha capacidade de empatizar com os outros cresceu exponencialmente... até que ouvi alguém dizer a palavra cônjuge e passei-me! Mandei todo o progresso e crescimento individual pela janela!

"Cônjuge" é horrível!!! ...tira-me do sério!

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Culpa, egoísmo e blogs

Chamaram-me a atenção para este post e fiquei a pensar na questão da culpa, da forma como nos prendemos e limitamos por e com ela. Do que li, gostei e até respondi...

O sentimento de culpa muitas vezes anda de mãos dadas com a expectativa, da ideia pré-concebida ou a priori estigmatizada do que se pensa, do que se decide e se executa… ou não… o que é em si e à partida, extremamente limitador, castrador até.

Vivemos num país profunda e culturalmente afectado pela chamada “moral católica”, que ensina pelo artifício do receio, do medo e da culpa que se deve ter das coisas, do mundo e do que se vê; mas também pela fé que se deve nutrir pelo que acaba por ser inatingível, mas que (alguns) acreditam estar lá, algures, ou até neles próprios.

O ser humano erra, perde-se, anseia e pode deixar-se ficar, ou não, nessa nebulosa de reflexões que invariavelmente levam à culpa e ao vago assumir das nossas falências e limitações. Mas isso, ainda que tendencialmente numa primeira abordagem, não será única e, de facto, podemos e devemos passar por cima dessa sensação de vazio que nos prende por dentro e libertar-nos positivamente de algo que só está na nossa cabeça (e no peso da nossa educação).

A ideia de livre-arbítrio, da individualidade e do quão fugaz é a nossa passagem pela vida, devem guiar-nos no sentido de sermos verdadeiramente egoístas e a procurar o que nos faz realmente feliz, sem culpabilização de pensamentos e acções. E para se ser feliz há que ter antes paz de espírito, algo apenas alcançável pelo discernimento e pela libertação face à culpa. Este é o verdadeiro e positivo Egoísmo que a Ética nos apresenta como o ‘bom guia para a Felicidade’.

“A nossa liberdade termina onde começa a dos outros” e não devemos controlar ninguém através do sentimento de culpa.

Pensar e reflectir é sempre bom, mas deixar-nos cair nesse ciclo-vicioso da tentação pela culpa deixa-nos manietados face às reais hipóteses de sermos mais, melhores e de estarmos bem… connosco e com os outros.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Presente, Passado e Futuro

Texto escrito para a Frente Alentejo, com base num outro que já tinha publicado aqui no blog...


Vive-se no presente mas também se vive no passado e no futuro, vive-se em todo o lado!

Sem pressões, sem ansiedades, é bom alimentarmo-nos de coisas que nos fizeram ou poderão fazer bem e mal, sentir o presente, projectando-o para agora, mas não somente ao sabor do vento, e enveredar por uma maneira diferente de olhar as coisas e o mundo, numa nova forma de conhecer a vida a cores e a fundo.

Evitar caminhos normais e habituais, trilhando novos percursos físicos e veredas mentais alternativas. Num arrepiar de sentido ou numa mudança de direcção, é a melhor forma de atingir o que desejamos e, ao mesmo tempo, estranhamente, chegar onde ou como nunca esperaríamos vir a estar.
Como que realizar objectivos sonhados, guiados por ideias e realidades aumentadas pela imaginação mas também pelos sentidos, viver só para o momento até pode parecer uma loucura, um devaneio egoísta que revela inconsciência e inconsistência, mas a experiência da novidade, a inquietação do desconhecido e a envolvência da descoberta podem ser tão consistentes como a frequência da normalidade.

Um trilho novo pode ser um desafio mas também é uma alienação, momentânea ou irreversível. Há quem goste, há quem se vicie e há quem consiga ignorar ou virar as costas ao que está para lá do que é facilmente atingível com o olhar. A mudança que nos leva a essa alteração de postura pode realizar-se em pequenos e mundanos gestos como a leitura de um livro, o visionamento de um filme, conhecendo pessoas e lugares, conversando e debatendo ideias opostas ou consequentemente engrenáveis ou até por pura e simples frustração! Por vezes, sem querer e até mesmo contestando, mudamos! E mudar pode não ser necessariamente para melhor mas é sempre bom!

É igualmente bom dedicarmo-nos a compor essa mudança através da orquestração da alegria dos outros com a nossa simpatia, boa vontade e por meio de gestos solidários de preocupação e cuidado interessado. No fundo estamos todos ligados num entrelaçado de emoções, sentidos e vontades, no passado e no futuro desta fantástica viagem que vale acima de tudo pela paisagem.

O nosso caminho deve ser traçado por múltiplas veredas coloridas e animadas, cortando esquinas de avenidas cinzentas, fadadas por um confortável torpor pós-prandial de gente a aboborar numa quietude terrível, dispostas em vias largas, limitadas apenas pela velocidade da luz mas que não alcançam muito mais que um palmo à frente do nariz, do teclado ou do capot. Pessoas consumidas por esse nevoeiro denso e morno que amedronta e incapacita mas que não é de todo irreversível e até nos ajuda a achar o ritmo para o tempo certo.

Todo o salto carece de equilíbrio e de uma contagem decrescente, só não convém começar nos 100… um, dois, três… a ideia é encontrar novos itinerários, frescos e arejados, num rumo incerto mas conducente à desejável paz de espírito individual e à consciência da felicidade comum.

É simples e mais fácil do que se pensa, ou se calhar o melhor é não pensar muito!


in Frente Alentejo nº3 Maio/Junho

terça-feira, 12 de julho de 2011

Vida, arte e existência

















Entendo o "horror da existência" como a forma de caracterizar o facto de sermos uma incrível coincidência no meio da imensidão de inconstantes e incertezas que é o Universo e tudo o que está para lá. Frio, bruto e envolto num silencio aterrador, embora com vida e muita beleza.

Se analisarmos a vida assim, é um pesadelo, mas se pensarmos no amor, na amizade, na arte, na criação humana, já se parece mais com a frase do Shakespeare, de que "somos feitos da mesma matéria de que são feitos os sonhos".

Há coisas que valem mesmo a pena e viver é uma delas!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Reflexão, motivação e acção

Texto inicial do evento “Ocupar a Praça – A Cultura Está na Rua” criado por mim como reacção à proposta crítica, pro-activa e positiva do blog A Cinco Tons por Carlos Júlio
(em 4.7.11 e todos os dias às 18h30 desde então)

"importa clarificar o que aqui se passa (o que aqui tento fazer):

Eu, Pedro Pinto, cidadão, munícipe e artista, sinto-me incomodado com alguns aspectos que envolvem a questão da "Cultura" nesta cidade. Não quero estar contra ninguém em particular e sou, acima de tudo, a favor da MUDANÇA! De uma mudança consciente, de uma alteração de postura e de uma maior proximidade entre todos - agentes culturais, responsáveis associativos e de colectividades, artistas e público. Pode ser uma ideia peregrina e utópica, mas é uma ideia comum a muita gente, que ocupa espaço e tempo nas nossas conversas e dissertações e, como tal, merecedora de atenção geral... (e não serão as ideias que fazem o mundo girar!?)

A mim, incomodam-me algumas bocas que ouço de gente que não se mexe senão para criticar e de forma muito pouco construtiva. Irritam-me algumas tomadas de posição em jeito de franco-atirador (como podem pensar de mim, claro!) e principalmente deixa-me triste perceber que esta cidade é um tanto ou quanto estranha e diferente de tantas outras por essa Europa fora. Mas uma cidade é feita das pessoas que nela habitam, transitam e visitam e face ao que tenho conhecido nestes últimos meses, ao que tenho vivido com gente nova com quem tenho privado, face ao que tenho sentido em tanta gente anónima, vejo que há muitas pessoas interessantes e interessadas nesta CIDADE QUE APARENTA TER PERDIDO O INTERESSE POR SI MESMA. Aposta-se mais no Entretenimento do que na Cultura e Entretenimento faz falta, a todos ou à larga maioria, e eu também gosto, mas Cultura também! A Cultura educa, é estruturante e mostra-nos o futuro e se há altura em que temos de apostar no futuro, talvez mais pela Cultura do que pela Economia, é agora!!

É importante haver Associações, Colectividades e Grupos, mas mais importante neste momento – parece-me e até posso estar enganado e não me levem a mal pelo atrevimento – é mostrar a todos, inclusive a nós próprios, que ESTAMOS VIVOS do pescoço para cima. Por isso é que eu digo e volto a referir que não interessa se somos mais à ESQUERDA ou à DIREITA. Somos pessoas sensíveis, temos interesse e estamos interessados! Fartos de gente interesseira estamos nós!!

HOJE VOU ESTAR NA PRAÇA DO SERTÓRIO ÀS 19h com a guitarra nas unhas à espera de gente que se interesse pelo futuro de todos (não pelo meu!)

Lanço este repto: larguem o conforto do ar-condicionado e do sofá e venham para a rua... cá vos espero!! ;))

...se não vierem, um grande bem-haja. a gente vê-se por aí noutro dia"

Entre o Facebook e uma quantidade quase astronómica de sms, espicacei para lá de 100 pessoas e apareceram mais de 50 interessantes e interessados. Qualquer coisa de fantástico!
Fica aqui um abraço a quem lá foi no primeiro dia, no segundo e no terceiro - sempre à volta de 40 pessoas, muitas delas diferentes de dia para dia - e o convite para o dia de hoje às 18h30 na Praça João de Deus (frente ao antigo Café Portugal). Apareçam, interessem-se, opinem e dêem alma e vida à Cultura em Évora.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cultura, Mudança e Revolução

«Eu, cidadão, munícipe, artista e membro anónimo de um público interessado, sinto-me incomodado com alguns aspectos que envolvem a questão da 'cultura' na cidade de Évora. Não me ponho contra alguém em específico e ninguém em particular. Não me incomoda que haja grupos de pessoas que decidam fazer associações por qualquer razão – eu próprio me sinto mais confortável em grupo e rodeado de pessoas activas e interventivas, subversivas, até – desde que produzam conteúdos com significado e que tragam mais cores a esta paleta que teima em cair nos tons de cinzento que nos escondem de nós próprios e das nossas potencialidades individuais e colectivas. Sou acima de tudo a favor da mudança!

Como povo, penso que devemos alcançar outro tipo de interacção social. Como artistas, um outro tipo de intervenção cultural, talvez mais direccionada a 'destabilizar', inteligente e subtilmente, as inúmeras zonas de conforto que nos caracterizam e demarcam individualmente. Como agentes culturais, sem dúvida uma maior envolvência no diálogo, que permita erguer pontes de confiança, concordância e conciliação – como quem estica os braços, talvez num abraço fraterno – entre indivíduos e grupos com pouca dissemelhança, que muitas vezes caminham em sentidos paralelos e de costas voltadas. Évora é fértil em pequenos triunfos, orgulhos e validações claustrofóbicas que enevoam o espírito e a alma criadora. Há que quebrar o ciclo!

Somos responsáveis pela nossa felicidade e devemos aceitar a mudança como forma de estar numa sociedade moderna. É uma questão de cidadania pura e simples! Devemos fomentar esta mudança de forma consciente e pró-activa numa alteração de postura e maior proximidade entre todos os agentes envolvidos na vida cultural desta cidade; artistas, responsáveis associativos, de colectividades e público. E esta é uma ideia assente em valores fundamentais de liberdade, comum a muita gente – que tem ocupado espaço e tempo nas conversas de café, nas discussões entre amigos, tertúlias circunscritas a espaços culturais – e como tal, merecedora de atenção.

Fascinam-me as bocas que ouço de gente que não se mexe senão para criticar de forma muito pouco construtiva, irritam-me algumas tomadas de posição sem nexo ou o propósito de ter uma continuidade positiva e fico triste ao perceber que a cidade de Évora é um tanto ou quanto estranha e diferente de outras cidades por essa Europa fora. Mas uma cidade é feita das pessoas que nela habitam, transitam e visitam e face ao que tenho conhecido nestes últimos tempos, ao que tenho vivido com novos amigos, com quem tenho privado e partilhado, face ao que tenho sentido em tanta gente anónima com opinião e ideias, vejo que há muita gente interessante e interessada numa cidade que aparenta ter perdido o interesse por si mesma, que aposta demais no entretenimento e menos na cultura, que se fecha continuamente nas suas ruelas já de si labirínticas, que foge às responsabilidades formais, onde amiúde se evita o óbvio e se contornam realidades que marcam a vida de muitos de nós que fazemos esta cidade pulsar. A Cidade vive muito para além do que é visível e palpável. Entretenimento faz falta a todos (ou à larga maioria), mas cultura também. Há espaço para tudo e todos.

A Cultura é estruturante e mostra-nos o futuro, e se há momentos em que temos de apostar no futuro, talvez mais pela Cultura que pela Economia, esse momento é AGORA!! E já se faz tarde…

Arte não se faz apenas em espaços nobres, por encomenda ou com objectivos bem estruturados. É importante perceber que há quem tenha a cultura como modo de vida e de subsistência (e não há mal nenhum nisso, excepto quando se gera algum tipo de habituação a roçar o clientelismo) e que essa dá vida a uma cidade que se move de muitos e variados eixos e interesses que vão para além da própria cultura. Importa perceber que esta gera empregos, promove benefícios e até pode, em certos casos, gerar lucro, mas que não deve ser orientada com outro objectivo que não o de educar e formar pessoas a sentir, reflectir e a criar. A arte nasce da necessidade de conceber e explorar os sentidos nas mais fundamentais características do espírito humano, ganha forma na harmonização de intenções, cresce na partilha de sentimentos e floresce na divulgação dos projectos. Há que mostrar o que de melhor se faz nesta cidade, dar a conhecer o que há de original e único, criar empatias e espaços de diálogo, juntando, de forma positiva e interessada, artistas, agentes culturais e público.

Somos anónimos até dar a cara por aquilo em que acreditamos e sinto que pode e deve haver mais e melhor nesta cidade. Neste momento é importante mostrar a todos, inclusive a nós próprios, que estamos vivos! Não interessa se somos mais à esquerda ou mais à direita. Somos pessoas, temos interesse e estamos interessados. Não vamos deixar morrer a Cultura em Évora! Temos ruas, temos praças, temos as pessoas que passam. Larguemos o conforto das nossas casas, das nossas mentes e os receios que as povoam e vamos para a rua partilhar emoções, sentimentos e opiniões.

A mudança está em cada um de nós.

Cultura é Vida!»


in Registo 7.7.11

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Antes, agora e depois

Quer se queira quer não, vive-se antes, durante e depois. Não vale a pena evitar riscos, curtir receios ou ficar à espera do melhor momento. Pode não se viver bem, a bem ou da melhor forma. Pode não se ter chama ou intensidade, sentido ou direcção mas vive-se!

É fácil acomodarmo-nos e viciarmo-nos no conforto do "agora", seja influenciado por receios do futuro ou por influências do passado, mas passado e futuro são importantes. O que quero vir a ser e, como tal, aquilo em que me torno - preferencialmente na melhor versão de mim mesmo - forjam-se no passado e no futuro, naquilo que experienciei e no que está por vir agora, e agora, e agora, e agora, e agora, e mesmo mais tarde.

Tendo por base a dança do ANTES, que me deu o traquejo e jogo de cintura com que desenvolvo o AGORA, torno-me melhor para DEPOIS.

Já dizia a personagem de Morgan Freeman no filme Shawshank Redemption: "get busy living or get busy dying", como se "being comboftably numb is working peacefully towards one's demise".

Tudo é sobrestimado, o verdadeiro equilíbrio fica algures no fio da navalha e essa é a questão principal!

Vivo no presente mas também vivo no passado e no futuro, vivo em todo o lado! Sem pressões, sem ansiedades. Alimento-me de coisas que fizeram ou poderão fazer-me bem e mal, para sentir melhor o presente, porque esse sim, deve ser projectado para agora, sem dúvida, mas não somente ao sabor do vento. Se calhar porque viver só para o momento pode revelar inconsciência e inconsistência, pois se assim não fosse, que sentido faria a leitura de um livro, o visionamento de um filme, seguir uma série, acompanhar uma equipa de futebol, conversar e debater ideias opostas ou consequentemente engrenáveis? Para quê, se só interessaria o agora!?

Mais idiota ainda seria reler ou rever algo que nos deu prazer e conhecimento anteriormente. Se fosse tudo para agora, fazíamos o que nos dava na real gana. Seriamos profundamente egoístas e eternamente desorientados. Deixar-nos-íamos ir no momento, confiando mais em qualquer outra pessoa do que em nós, ou até mais em nós do que nos outros todos.

Aproveitar cada minuto e abraçar todas as sensações e emoções faz todo o sentido, mas não é a mesma coisa do que viver à toa, sem norte, à deriva. Queiramos ou não, deixamos rasto, impressões - por vezes indeléveis - nos outros e marcamos a diferença até em acções simples e aparentemente pouco ou nada relevantes.

O presente é feito de uma mistura tangencial e exponencial entre passado e futuro. O presente não existe, é pura ilusão! Faz-se e acontece à medida que vai sucedendo, por vezes quase em catadupa e viver exclusivamente para ele, de forma "cega", será um vício estranho de consequências imprevisíveis que nos pode deixar a leste de nós próprios ou dos outros, aqueles que significam tanto e que merecem mais e melhor de nós.

Agora sim, claro, mas antes e depois também.

sábado, 9 de abril de 2011

Amor, sensibilidades e o que é fantástico

Amor é o interesse mais desinteressado que conheço.

É uma espantosa e incerta mescla de egoísmo e altruísmo, em doses exageradas mas não extremadas. Capaz de destabilizar qualquer pensamento, raciocínio e ponderação. Podemos tentar escudar-nos de emoções e sentimentos, mas haverá sempre um instante improvável em que fraquejamos, para nosso bem, deixando-nos levar pelos sentidos, num belo momento que se perde no tempo.

Embora uma necessidade, a felicidade não é como um espirro ou um soluço oportunista, é bem mais do que uma querença ou uma carência. É um estado de espírito, uma habilidade que se conquista, trabalha e se aperfeiçoa com o tempo, inclusiva e especialmente com todos os acidentes de percurso que se sucedem e que por vezes nos abatem, amedrontam ou incapacitam. Pontualmente, e por vezes de forma irreversível, perde-se essa capacidade e tal como músculos, articulações e raciocínios, requerem exercício e um sem número de melhoramentos. Na vida nada é estático além da confortável estabilidade criada pela nossa falta de vontade em voltar à carga e de nos deixarmos levar por algo desconhecido, por vezes até assustador, sim, mas nada que valha a pena virá de forma fácil e inteligível. Não nos devemos deixar estar por muito tempo nesse stand-by! É bom, serve o propósito, como quem precisa de contar antes de dar o salto, mas temos de dar esse salto! A capacidade de nos deixarmos apaixonar e ser felizes, por nós, pelo mundo e pelas pessoas, pode e deve ser cultivada, desenvolvida, até aperfeiçoada, senão para que serviriam os livros, as comédias românticas e a companhia de animais!?

No filme Dan in Real Life aparece a frase "love is not a feeling, is an ability" e se isso é verdade, e nada disto é inato ou automático, requer controlo, falta de controlo, depois controlo novamente, descontrolo, ainda a entrega total, para depois nos perdermos por completo ao mesmo tempo que ganhamos tudo o que outra pessoa nos dá, até o que somos nós, bem mais do que somos sozinhos, numa melhor versão de nós próprios. Deixarmo-nos ficar prisioneiros do amor que sentimos, nunca da pessoa que amamos e com isso conquistarmos um extraordinário novo mundo que engloba o que era anteriormente só nosso, dando-lhe um outro sentido imprevisto, aumentando-o exponencialmente em forma e conteúdo, direccionando-nos paralelamente para um infinito desconhecido mas inesperadamente confiável.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Música, experiências e o que é bom

Na música, as minhas melhores e mais marcantes experiências têm sido, sem dúvida, verdadeiras surpresas! Seja em estúdio, pormenores que se sucedem, não se explicam e direccionam um determinado tema, até esse momento aparentemente arranjado e orquestrado, num sentido ligeira ou até completamente diferente, inesperado e fantástico; seja ao vivo, com momentos indescritíveis de rara conjugação de empatias e sensibilidades entre músicos, normalmente impossíveis de planear; seja aquela música que dá naquele dia, naquela hora, naquele momento na rádio ou aparece numa cena daquele filme incrível ou quando estávamos com aquela pessoa naquele bar, na praia ou no meio do campo à noite... Costumo dizer entre amigos, que vivo para os arrepios e normalmente estes dão-se em momentos, não de expectativa, mas de total surpresa!

Sou um junkie da música! Vivo com, de e para a música e é de facto das poucas coisas (ainda são algumas, até mais que meia dúzia!!) que me põem fora de órbita. Tantas vezes me tira do meu elemento, da minha zona de conforto e me dá a sentir coisas que, até aí, nunca tinha provado.
É bom procurar, perspectivar, sonhar e imaginar, mas o elemento da surpresa, a inquietação do sobressalto e o desassossego da genuína admiração é que nos marcam de forma indelével nesta vida.
Nem sempre o que é diferente é melhor, mas diferente é sempre bom!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Bicheza, filmaças e ainda a mudança

O post sobre a "mudança", pegando nos filmes Inception e Dead Poets Society, foi criado com base em algo que coloquei no mural do Facebook. Deu pano para mangas e gerou comentários muito interessantes - ou não fosse exactamente essa a ideia. Numa das interpelações punham a questão de como ser possível mudar sem mudar a nossa essência e a argumentação era baseada na rábula do sapo e do escorpião, em que o animal esverdeado sapo transporta o insecto de uma margem para a outra do rio e a meio da travessia o escorpião injecta-lhe veneno através do ferrão, tornando-se fatal para os dois... "It's in my nature" - says the scorpion...

A minha resposta, agora transposta para o blog, ganhou importância e relevo suficientes para dar continuidade ao post anterior:

Há quem diga - e olhando para o estado das coisas até parece que sim - que somos vírus e não mamíferos, mas acredito genuinamente que está na nossa natureza individual sermos felizes e não apenas sobreviver - por isso existe criação, arte, imaginação. Somos seres racionais mas acima de tudo temos ideias baseadas em sonhos, expectativas e ilusões (nem todas saudáveis). Essas ideias definem o que somos e para onde vamos. Recuso-me a definhar sob a teoria de que somos maus à partida! É certo que há muita gente manhosa que não presta, mas isso será consequência de falhas que muitas vezes não lhes poderão ser imputadas. Certamente não nasceram assim, mas aprenderam a ser de tal modo! A culpa nasce com a percepção e há quem não se conheça, não se perceba ou pura e simplesmente tenha medo de ir fundo dentro de si mesmo. O escorpião só podia estar com os copos ou era do Benfica (nada contra, mas se calhar ele não gostava de verde) ou cresceu só a observar escorpiões à sua volta. O mundo é muito mais do que aquilo que vemos e sentimos. Basta abrir os olhos ou até fechá-los e confiar noutros sentidos...
Acima de tudo, não somos escravos da nossa condição. Temos sempre escolha! Talvez seja essa apenas e só a nossa única limitação, o livre arbítrio. Para sermos livres temos de sentir e pensar livremente, mas como é que se chega lá? Talvez falhando mas continuando sempre a tentar acertar depois de errar.

os comentários seguiram-se...

"não nascemos egoístas, bandidos, etc. Somos moldados pelo ambiente que nos rodeia. E uma ideia pode mudar tudo, sem dúvida."


"sim, nascemos um saco vazio... uma ideia lá para dentro de cada vez, pode mudar tudo... para o bem, ou para o mal  ‎...fiquei a pensar sobre isto... será que são estas primeiras ideias que absorvemos - ainda sem ter um distanciamento necessário sobre elas que permita uma consciencialização - que formam a nossa essência?! que nos tornaram nisto ou naquilo?! será que temos, ou tivemos, algum poder decisivo sobre o que somos?! ...pergunta retórica"

respondi:

Essa não é uma pergunta retórica, ou não deve ser, e é uma excelente questão! Acho que há muita coisa que nos é dado como adquirido mas não o é de facto. Muitas vezes até somos coagidos a pensar de certa forma ou sobre certas coisas. Mesmo com alguns exageros - até sabendo a priori que nos querem também fazer ver certas outras coisas - é bom ver documentários como o Zeitgeist ou filmes-metáfora como o 'Matrix' ou o 'V For Vendetta' para termos uma pequena noção do mundo em que vivemos. Pelo menos por outros olhos, de outra perspectiva que não a nossa.

mais comentários...

"penso que o nosso poder decisivo existe mas sempre limitado pela nossa experiência/conhecimento"

mais resposta:

É disso mesmo que fala o filme 'V For Vendetta'!! Essa não é uma metáfora! Aquele "small inch" onde ninguém pode entrar, quer nos enfiem numa câmara de gás, quer nos apontem uma metralhadora, quer nos dêem socos no estômago ou nos façam ver a programação da TVI. Se nos educarmos, se nos exercitarmos e cuidarmos da nossa mente e alma, como somos impelidos hoje em dia para cuidar do nosso corpo e aspecto físico, seremos pessoas muito mais interessantes e interessadas (não interesseiras! e nada contra bom ascpecto físico!).

mais comentários...

"sim e quanto mais conhecemos, mais aumentamos as probabilidades de tomar as decisões mais acertadas. "Mais" portanto!"

mais reposta:

O engraçado deste "jogo" é que nunca haverá distanciamento ou tempo suficientes para analisarmos bem as coisas antes de as fazermos e temos de nos fazer a elas com intuição e alguma reflexão - quando isso é possível! - nunca desesperar e continuar a tentar. Parece conversa, mas nunca me esqueço disto porque já outros mo disseram, em aulas, tertúlias, livros, filmes... Estamos cá uns para os outros!
Bem sei que vivemos tempos estranhos em que somos criados para sermos individualistas, para viver tudo depressa e bem porque não há tempo, mas há sempre tempo, mais não seja para aprender e fazer melhor logo a seguir. Não somos ratos num labirinto! Há quem queira fazer isso de nós, com tanto centro comercial, hipermercado e ruas cheias de discotecas, mas podemos curtir o que nos dão e manter um espírito crítico, até auto-crítico!
O q é engraçado é que hoje em dia está quase tudo à nossa frente e nós queremos mais, sempre mais. Queremos tudo mas não é preciso. Chegamos ao que verdadeiramente precisamos se tivermos paciência, resiliência e traquejo, mas o jogo de cintura ganha-se dançando!
Life is a work in progress and that's the fun in it!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Álcool, all cool and the shrink factor

É mesmo o tipo de filme que eu gosto... qual... já lá vamos!

Há coisa que nos tocam... uma conversa aparentemente banal, algo que se diz, uma frase feita, talvez um diálogo do qual não fazemos parte, meio distante mas presente. Um romance diferente que até nem parece literatura, parece verdade. Uma série que nos surpreende em jeito de soco no estômago, mal sabíamos que a televisão podia fazer isso. Por vezes outras realidades ou perspectivas dessas mesmas "existências", filtradas, exageradas ou embelezadas, a enómetros de distância daquilo a que assistimos no dia-a-dia, mas ainda assim estranhamente paralelas aos nossos momentos e sentimentos, descobrem a humanidade das pessoas através das merdas de cada um. Aquilo que nos edifica também nos destrói, o que nos prende, encerra também a ínfima e monstruosa capacidade de nos libertar, as tais duas faces da mesma medalha, os dois ângulos e perspectivas da mesma coisa, ou mais... ser, sentir e experimentar.

Achei fantástico o filme que vi hoje à noite! Deixou-me a leste das minhas coisas mas ainda assim com intimidade e trato suficientes para as recordar com brio, com gosto de as ter, de me envolver, porque fazem parte de mim, do que sou e para onde vou. Dão sentido à viagem, ora no rio ora na margem, e mostram o que muitas vezes não tenho intenção de ver, como um desígnio criado por mim, sem ter bem noção ou vontade, ou a invariabilidade e o apego de algo que faço sem querer, querendo. Como é que podemos ter tanta coisa cá dentro e haver espaço para tanto mais!?

Ah! ... este!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Funcionalidade, sossego e alter-egos

Respondendo aos comentários gerados pelo post anterior, achei que ficaria melhor em formato de novo post.
Nestes últimos anos apercebi-me que a melhor forma de sermos "funcionais" em alguns contextos, principalmente em termos profissionais e até com certas pessoas a nível social, é de certa forma escondermos o que somos realmente e deixarmos - ou fomentar, dependendo do momento e situação - a projecção e influência da nossa imagem abrir caminho à nossa frente, como se de um amigo a afastar gente a pulso numa multidão se tratasse. Com algum jogo de cintura até nos vamos conseguindo tornar mais profissionais, confiáveis e até verdadeiros no nosso percurso, mas sem dúvida que requer muito traquejo e aquela patine tão pouco natural na nossa consciência. Com o decorrer do tempo, considero que mudei, amadureci e hoje sei que devo ser egoísta para estar melhor, para ter paz de espírito e até para ser feliz, mas é um egoísmo interessado, não interesseiro! (faço-me entender!?)

Quem me conhece narra-me como sendo genuíno e verdadeiro - mesmo mudando tantas vezes de opinião, o que continuo a achar tratar-se de uma característica positiva, dado que não me custa muito dar o braço a torcer a quem quer que seja, uma vez que quando mudo é para melhor, logo, compensa - mas a que preço!? Custa e desgasta bastante, só se tornando positivo quando analisado o rácio custo-benefício e normalmente só quem está mesmo perto reconhece e dá valor a isso. Os outros, bem...

Invariavelmente quem tem uma postura mais séria e regular, não necessariamente cinzentona, arriscar-se a ser rotulado de arrogante ou distante, o que muitas vezes acontece comigo, mas confesso que em nada me incomoda, pois só acontece num primeiro instante ou à distância e nem a toda a gente vale a pena dar-me a conhecer. Não que não importem, com certeza interessam a alguém, ou até a muita gente, mas não são relevantes para o meu percurso... e era exactamente aqui que queria chegar!

Num dos comentários, aparecia escrito: "sê superficial, mas sem faltar à verdade, com os outros que passam na tua vida sem deixar marcas".

Parte de nos tornarmos adultos, seja lá em que momento da vida isso possa acontecer, ou não, até porque se pode de certa forma evitar e contrariar esse processo quase inevitável, consiste em compreender e aceitar que não somos donos, em parte, do nosso destino - ou da sua totalidade, diriam alguns - por mais que se orientem objectivos num ou mais sentidos ou até deixando andar a vida ao sabor do tempo; que não somos imortais e o quanto isso tem de real em si mesmo, em nós próprios e a cada dia que passa; e que muito provavelmente não deixaremos grandes marcas neste mundo ou na sociedade em geral - confesso que detesto o triste postulado de Warhol. Apreendemos tácticas e todo o tipo de manobras de diversão com o objectivo de afinar a nossa maneira de estar, tendo como desígnio último a tão importante obtenção de sossego de espírito, conseguindo, de forma mais ou menos penetrante, ser nós próprios. Mas será que com tanta curva e contra-curva no traçado sinuoso que vamos riscando social e profissionalmente acabamos por atingir essa meta ou estaremos, assim, designados ao curioso e atraente esboço de uma ou mais versões de nós mesmos? E a ser esse o cenário, poderemos melhorar continuamente os defeitos perniciosos da nossa original individualidade ao darmo-nos de forma tendencialmente harmoniosa com os outros ou as reverberações cabalísticas da nossa essência teimam sempre em borrar a pintura dessas versões alternativas do nosso Ego?

domingo, 18 de abril de 2010

Há dias assim...

A vida não está fácil! Tudo parece instável e em constante mutação. As relações e envolvimentos emocionais tornam-se mais práticos e menos românticos com o passar dos anos. As pessoas que orbitam à nossa volta, especialmente os que vestem a nossa camisola, fazem as suas escolhas mais ou menos conscientes, casam-se e têm filhos, dedicam-se às suas carreiras e a cumprir escrupulosa e minuciosamente os planos de pagamentos de casas, férias e todo o tipo de veículos e gadgets tecnológicos e não se dá pelo tempo passar, mas ele passa e a que velocidade! Esta instabilidade estúpida e manipuladora, criada nos mercados económicos, de trabalho e sociais, parece servir de combustível a uma máquina montada para manter artificialmente este cenário sem cheiro e cor mas de sabor altamente ácido e metálico em que a crescente podridão humana fundamenta uma suposta e presumível prosperidade individual que parece não ter fim.

As consciências individuais e comuns estão no centro de uma circunferência mediática e circense que alimenta dissimuladamente e quase por via intravenosa as nossas genuínas aspirações a sermos felizes, completos, quase perfeitos e deixam os nossos egos numa pirâmide invertida que mais parece uma parábola em fase descendente, mas que é verdadeiramente uma espiral negativa e incontrolada. Partimos do errado pressuposto que precisamos de certas coisas que nos fazem absolutamente falta nenhuma. Deixámos de ligar aos mais velhos, de dedicar tempo aos mais novos e perdemos o respeito por nós próprios quando nos tornamos insensíveis ao juízo de alguns e à eternamente útil e outrora sempre presente auto-crítica. Temos tanto a aprender com os outros, connosco próprios e com a vida e devia ser esse o nosso único "jogo" durante o tempo que cá estamos. É precisamente com base nisso que tento dar-me a quem aprecio desta forma simples e honesta, sem jogos, sem rodeios, sem hesitações. Porque a vida não é feita para perdermos tempo, senão para ganharmos momentos de qualidade, bem temperados, bem passados e guardarmo-los na nossa memória apenas, não em ficheiros, subpastas e redes virtuais. O mundo não se quer guardado numa caixinha alimentada electricamente e climatizada à temperatura ideal, até porque essa é a melhor forma de ganharmos pó e potenciar um curto-circuito que pode ser forte demais ou vir demasiado tarde para permitir inverter todo um processo de estupidificação, por vezes sem retorno.

As coisas boas deste universo são para serem experienciadas e vividas com intensidade e fulgor, sem indecisões ou perplexidades. Esta viagem, que iniciamos apenas com a roupa que trazemos vestida quando chegamos ao mundo, pode terminar com uma bagagem imensa e por demais interessante. Passamos muito tempo sozinhos, é certo, mas nunca devemos estar sós e optarmos sim, por apostar sempre em nós a nível emocional até ao momento de conhecer a(s) pessoa(s) certa(s)... não perfeita(s), certa(s)! Parecendo que não, isto revela-se ser de extrema importância, pois mesmo passando muito tempo sozinhos, muitos kms percorridos, alguma gente que não nos diz muito e outra tanta que não nos diz nada, não nos podemos deixar ir abaixo e perder o norte, o nosso norte! Acima de tudo é uma questão de perspectiva, postura e verticalidade.

Como homem serei mais um, um pouco diferente é certo, mas não especial, mas como pessoa trago sempre comigo essa bagagem interessante e única, com tudo o que isso tem de bom, menos bom e mau, mas afinal qualquer pessoa pode ser e é interessante à sua maneira. Não temos de gostar de tudo e todos, respeitando sempre, claro, e o que é de máxima importância são as ligações que se criam entre pessoas, seja a que nível for, e eu cultivo isso, sempre! Faço questão de me rodear de pessoas "especiais" e isso traz-me muita coisa positiva e aumenta exponencialmente o meu ângulo de visão, a minha perspectiva, o meu horizonte, e quase numa base diária. Esta vida é um momento único - ainda que longe de ser perfeito - para vivermos tudo intensamente, sem arrependimentos e da forma mais confortável que conseguirmos encontrar.

Os maus momentos que atravessamos podem e devem ser fases importantes para nos equilibrarmos, ganhar mais conhecimento sobre nós próprios e o que nos rodeia e conseguir um pouco daquilo que é talvez a coisa mais importante para todos nós e muita gente confunde com felicidade, que essa é sempre, sempre momentânea e pontual, normalmente esporádica ou sazonal e por vezes até aparentemente aleatória, mas paz de espírito, uma vez alcançada, ninguém a pode roubar... só nós mesmos! Viver, seja como e quanto tempo for, é sempre uma experiência em que devemos investir tudo o que temos.

Hoje estou bem disposto e a alguém o devo...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Que se lixe a Saudade

A Saudade é um sentimento tipicamente português que, segundo dizem, nos caracteriza como povo. É uma palavra que aparentemente não tem tradução para outras línguas. Não consigo evitar associar saudade ao sentimento que se tem quando se perde algo ou alguém e não quando apenas se está longe do que nos faz sentir falta, seja pessoa, objecto ou estado de espírito. Sentir falta é bastante positivo e faz-nos querer voltar de forma assertiva ao sentimento que tínhamos antes, quer fosse algo pontual e esporádico ou de certa forma periódica e sazonal. Já a saudade transporta algo de negativo, funesto e por vezes até nefasto. É daqueles sentimentos que nos fazem sentir pequenos e acomodados face ao imenso peso da irreversibilidade. É o que os fadistas cantam, e aqui aproveito para relembrar que fadistas são os músicos que cantam sobre o destino, lá está mais uma referência ao que nos estará traçado, é o que se sentia pelo D. Sebastião, pelas glórias antigas do Benfica ou das batalhas contra os espanhóis e os mouros, pelo Sá Carneiro e outros políticos desaparecidos ou até mesmo – infelizmente até me arrepio quando o oiço dizer e mais ainda de o escrever, mas até vou ouvindo cada vez mais amiúde – pelos tempos do Salazar em que, e passo a citar o que é mais vezes referido como incentivo associado a esta vontade, “andava toda a gente na linha”... sinceramente, se é a isto que se referem como exemplos da vasta e inegável alma lusitana, pobre de espírito, rica em desmazelo e incapaz de tocar as coisas para a frente, que é para onde é o único e válido caminho, então prefiro estar fora desse lote de gente estranha e poupar-me ao desígnio do sofrimento. Só temos uma vida e já que acontece tanta coisa má, mais vale não perder tempo a sofrer por antecipação e a amargar o que podia ser doce.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A vida e o sentido de tanto pensar

Uma questão me tem assolado nestes últimos momentos acordado e com a qual me debato enquanto me vou arrastando do sofá para a cama depois de uma injecção maciça de enlatados inteligentes e pertinentes de séries americanas em forma de disco de vídeo digital… será que crescemos mesmo sem querermos? Não é possível ficarmos, ainda que nefastamente, presos à criancice ou à adolescência até chegarmos a velhos? A vida acaba por irreversivelmente moldar-nos em peças de arte funcional, de design discutível, claro está, adultas e amadurecidas com a patine da experiência? A idade até à qual pensamos divertir-nos acaba por passar por nós sem nos darmos conta de que já lá vai ou há esperança que a nossa individualidade vença o inconformismo do Tempo em vários rounds sem luvas e muito suor, sangue e lágrimas à mistura, por forma a prevalecer sempre em nós um espírito sensiente, capaz de se adaptar ao rigor dos tempos com a lisura de um menino de coro, estranhamente misturada com o charme que a vivência assídua e presente nos proporciona? De facto não podemos ter sempre aquilo que queremos, mas se tentarmos, às vezes apercebemo-nos que até conseguimos ter o que precisamos... como já dizia o grande filósofo Jagger.

segunda-feira, 11 de julho de 2005

Para o Rui...

"And so it is / Just like you said it would be / Life goes easy on me / Most of the time"

Começo este post com uns versos da música do Damien Rice que me fazem pensar em inúmeras coisas. Entre elas, uma pessoa que morreu esta madrugada. Era das pessoas mais vivas e vividas que conheci até hoje. Sempre cheio de vontade de fazer e acontecer, com aquele brilho cintilante nos olhos e um sorriso aberto e sincero. Morreu estupidamente, afectado por um cancro que começou nos pulmões. Ele fumava imenso!

Este post vem no seguimento do “Papel Decisivo” e serve para mostrar que o Rui teve um papel decisivo na minha vida, postura e forma como encaro os meus dias e o meu futuro. Recentemente vi o filme Million Dollar Baby e fez-me lembrar outro filme, Magnólia. Passo a explicar...

Ainda não “assisti” a muitas mortes, mas as que presenciei, ou pelas quais passei de perto, afectaram-me sempre. Recentemente o meu avô materno, há pouco tempo o meu cão, pouco antes disso a minha gata de dois anos que me deixou dois leais companheiros, há algum tempo um amigo de família, pouco mais tempo que isso um tio/avô, e há mais tempo o meu gato, companheiro de dez anos que morreu velhinho e fui eu que o enterrei, tal como ao cão do meu primo aqui há tempos. Isto não vos diz nada mas serve de desabafo, para mostrar que é péssimo quando se perde alguém que nos é próximo e querido. Pior ainda, quando perdemos a hipótese de estar com quem está próximo ou quando nos perdemos de nós mesmos.

A vida é uma coisa estranha e por vezes sem significado, mas vale sempre a pena ser vivida. Tenho muito respeito por quem cá está, tanto quanto por quem parte. Sei bem que não há nada depois do que sentimos e vivemos aqui. Não há ali nem mais tarde! Só há a ausência de dor e sofrimento desnecessário, como aconteceu agora, neste caso. Ninguém pode travar o caminhar para a morte, mas há outra postura que se pode ter: caminhar pela vida. Quero com isto dizer que além de se ter objectivos, expectativas e um querer chegar lá, importa também gozar a paisagem, ver umas árvores "pela janela", tirar umas notas e umas fotos, observar, reflectir... Talvez resulte melhor em inglês: a journey through life!

Há vícios que são bons de ter e isso é MESMO com cada um! Mas há vícios estúpidos que, irreflectidamente, vamos tendo e deixando estar e seguir, sem que nos apercebamos do possível e mais que provável resultado. Quando pensarem em vícios como o álcool ou o tabaco, que são, DE FACTO, as piores drogas do mercado (e legais!!!), pensem numa pessoa, que uma vez irradiava vida e depois, ainda cedo, sofria à espera do fim… e que fim estúpido, morrer-se doente! QUE FIM ESTÚPIDO!!!

Não quero ser pessimista, muito pelo contrário! Idealizo a vida como uma viagem com destino certo mas sem rumo. E cada pessoa que morre não deita abaixo. Não perco força nem vontade de viver. Faço a celebração da vida. Da minha e de quem morre. De quem parte e de quem fica. Porque a vida pertence aos que fazem por ela e a sentem.

"Get busy living or get busy dying”.

sábado, 23 de abril de 2005

A magia da noite.

É incrível como à noite tudo parece fazer mais sentido. Talvez por já termos o peso de um dia inteiro em cima a noite aparente um saudoso aspecto mágico. Traz significado à nossa imaginação, às ideias mais recônditas... às nossas fantasias. A noite potencia a nossa capacidade intrínseca de sonhar, e não só enquanto dormimos. A noite é amiga, confidente, tem-nos respeito. Podemos fazer qualquer loucura, dar azo à mais estranha das vontades que ela não nos ignora, não sente despeito. À noite não há lugar para ressentimento. É durante o dia que os nossos pensamentos nos ferem, nos deitam abaixo, nos transformam. O dia é escravo da nossa consciência, dos nossos preconceitos e preocupações. De dia sente-se o tempo, controlam-se as horas, medem-se os momentos. A noite não tem fim, é eterna e está sempre dentro de mim.

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Carta de um potencial suicida

Nunca tive a mais ínfima intenção de pôr termo à minha vida. Nem tão pouco pensei nisso! Era coisa que nunca me tinha passado pela cabeça. A minha vida estava inquieta, empolgante, quase descontrolada. Sucediam-me, em catadupa, uma quantidade incrível de ideias e projectos para realizar, ou somente para pensar e dedicar mais tarde. A minha cabeça não parava, estava, como eu gosto de dizer, num turbilhão de ideias e emoções – sempre gostei desta noção, dá uma sensação de frescura – mas ao mesmo tempo pensava como é engraçado pararmos para reflectir sobre a nossa vida, em tudo o que nos acontece e encarar as coisas sob uma outra perspectiva. Nestes momentos deparamo-nos com uma certa letargia ao nível das ideias, só compensada com o fluir da nossa imaginação, que essa, nunca pára. Não são raras as vezes em que nos questionamos acerca das imutáveis e eternas dúvidas, aquelas do tipo: quem sou eu realmente?, qual o sentido disto tudo?, entre outras mais degradantes. Sim, porque é nestas alturas que nos revelamos mais egocêntricos e indecentes. Nestas alturas pomo-nos à parte de tudo. Somos nós contra o mundo. Nós e a nossa vontade nesta demanda última de saciar o mais antigo dos instintos: a curiosidade.

O que me atormenta verdadeiramente é o facto de a vida ser tão imprevisível, irónica, mesmo. Um dia estamos apaixonados, por nós, ou mesmo por outra pessoa, e de repente acontece algo que transforma e desfigura completamente a nossa percepção da realidade. Tornamo-nos taciturnos e melancólicos, mais reflexivos, e por vezes até nos insuflamos de raiva e vontade de estragar o pouco que se mantém de pé. E é aqui que somos capazes de tudo, em potência até de nos extinguirmos. Em última instância somos apenas pó…

Há uma frase dos Monty Python que sempre achei genial: Do nada vimos e para o nada caminhamos. O que é que temos a perder entretanto!? …NADA!