quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Bicheza, filmaças e ainda a mudança

O post sobre a "mudança", pegando nos filmes Inception e Dead Poets Society, foi criado com base em algo que coloquei no mural do Facebook. Deu pano para mangas e gerou comentários muito interessantes - ou não fosse exactamente essa a ideia. Numa das interpelações punham a questão de como ser possível mudar sem mudar a nossa essência e a argumentação era baseada na rábula do sapo e do escorpião, em que o animal esverdeado sapo transporta o insecto de uma margem para a outra do rio e a meio da travessia o escorpião injecta-lhe veneno através do ferrão, tornando-se fatal para os dois... "It's in my nature" - says the scorpion...

A minha resposta, agora transposta para o blog, ganhou importância e relevo suficientes para dar continuidade ao post anterior:

Há quem diga - e olhando para o estado das coisas até parece que sim - que somos vírus e não mamíferos, mas acredito genuinamente que está na nossa natureza individual sermos felizes e não apenas sobreviver - por isso existe criação, arte, imaginação. Somos seres racionais mas acima de tudo temos ideias baseadas em sonhos, expectativas e ilusões (nem todas saudáveis). Essas ideias definem o que somos e para onde vamos. Recuso-me a definhar sob a teoria de que somos maus à partida! É certo que há muita gente manhosa que não presta, mas isso será consequência de falhas que muitas vezes não lhes poderão ser imputadas. Certamente não nasceram assim, mas aprenderam a ser de tal modo! A culpa nasce com a percepção e há quem não se conheça, não se perceba ou pura e simplesmente tenha medo de ir fundo dentro de si mesmo. O escorpião só podia estar com os copos ou era do Benfica (nada contra, mas se calhar ele não gostava de verde) ou cresceu só a observar escorpiões à sua volta. O mundo é muito mais do que aquilo que vemos e sentimos. Basta abrir os olhos ou até fechá-los e confiar noutros sentidos...
Acima de tudo, não somos escravos da nossa condição. Temos sempre escolha! Talvez seja essa apenas e só a nossa única limitação, o livre arbítrio. Para sermos livres temos de sentir e pensar livremente, mas como é que se chega lá? Talvez falhando mas continuando sempre a tentar acertar depois de errar.

os comentários seguiram-se...

"não nascemos egoístas, bandidos, etc. Somos moldados pelo ambiente que nos rodeia. E uma ideia pode mudar tudo, sem dúvida."


"sim, nascemos um saco vazio... uma ideia lá para dentro de cada vez, pode mudar tudo... para o bem, ou para o mal  ‎...fiquei a pensar sobre isto... será que são estas primeiras ideias que absorvemos - ainda sem ter um distanciamento necessário sobre elas que permita uma consciencialização - que formam a nossa essência?! que nos tornaram nisto ou naquilo?! será que temos, ou tivemos, algum poder decisivo sobre o que somos?! ...pergunta retórica"

respondi:

Essa não é uma pergunta retórica, ou não deve ser, e é uma excelente questão! Acho que há muita coisa que nos é dado como adquirido mas não o é de facto. Muitas vezes até somos coagidos a pensar de certa forma ou sobre certas coisas. Mesmo com alguns exageros - até sabendo a priori que nos querem também fazer ver certas outras coisas - é bom ver documentários como o Zeitgeist ou filmes-metáfora como o 'Matrix' ou o 'V For Vendetta' para termos uma pequena noção do mundo em que vivemos. Pelo menos por outros olhos, de outra perspectiva que não a nossa.

mais comentários...

"penso que o nosso poder decisivo existe mas sempre limitado pela nossa experiência/conhecimento"

mais resposta:

É disso mesmo que fala o filme 'V For Vendetta'!! Essa não é uma metáfora! Aquele "small inch" onde ninguém pode entrar, quer nos enfiem numa câmara de gás, quer nos apontem uma metralhadora, quer nos dêem socos no estômago ou nos façam ver a programação da TVI. Se nos educarmos, se nos exercitarmos e cuidarmos da nossa mente e alma, como somos impelidos hoje em dia para cuidar do nosso corpo e aspecto físico, seremos pessoas muito mais interessantes e interessadas (não interesseiras! e nada contra bom ascpecto físico!).

mais comentários...

"sim e quanto mais conhecemos, mais aumentamos as probabilidades de tomar as decisões mais acertadas. "Mais" portanto!"

mais reposta:

O engraçado deste "jogo" é que nunca haverá distanciamento ou tempo suficientes para analisarmos bem as coisas antes de as fazermos e temos de nos fazer a elas com intuição e alguma reflexão - quando isso é possível! - nunca desesperar e continuar a tentar. Parece conversa, mas nunca me esqueço disto porque já outros mo disseram, em aulas, tertúlias, livros, filmes... Estamos cá uns para os outros!
Bem sei que vivemos tempos estranhos em que somos criados para sermos individualistas, para viver tudo depressa e bem porque não há tempo, mas há sempre tempo, mais não seja para aprender e fazer melhor logo a seguir. Não somos ratos num labirinto! Há quem queira fazer isso de nós, com tanto centro comercial, hipermercado e ruas cheias de discotecas, mas podemos curtir o que nos dão e manter um espírito crítico, até auto-crítico!
O q é engraçado é que hoje em dia está quase tudo à nossa frente e nós queremos mais, sempre mais. Queremos tudo mas não é preciso. Chegamos ao que verdadeiramente precisamos se tivermos paciência, resiliência e traquejo, mas o jogo de cintura ganha-se dançando!
Life is a work in progress and that's the fun in it!

1 comentário:

Anónimo disse...

As conversas à luz do existencialismo são sempre interessantes e inesgotáveis...só é necessário o mote:)Continuação de bom trabalho!