segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Farinha, parvoeira e a ciganita

Bem... hoje aconteceu-me uma daquelas situações que só sucedem comigo, de certeza!
Fui ao supermercado à hora de almoço, comprar qualquer coisa para comer e uma menina cigana abordou-me logo à saída do carro a pedir dinheiro. Como tenho por regra não dar dinheiro a ninguém, expliquei-lhe educadamente que iria pagar com cartão, que não tinha moedas comigo e perguntei se lhe podia trazer qualquer coisa, ao que ela respondeu com sugestões algo estranhas para quem andava a pedir, alegadamente por necessidade. Questionei-a se não tinha fome - fazia todo o sentido àquela - ou se precisava de alguma coisa e ela pediu para comprar fraldas... aparentemente não seria um pacote de Tena Lady mas sim fraldas para um bebé que não estava ali com ela. Disse-lhe para vir comigo, porque não saberia por onde escolher, mas ela explicou de imediato que o segurança não a deixava entrar. Perguntei mais uma vez se quereria algo para comer e ela respondeu prontamente: "farinha!". Perguntei: "farinha? um pacote de farinha!?". Voltou a responder: "farinha, sim, farinha!". Lá fui eu buscar qualquer coisa do balcão de take-away, passando pelo corredor das massas e apanhando um 1kg de farinha, 1kg de arroz da prateleira e mais uns enlatados. Dirigi-me à caixa para pagar e a minha mente ainda vagueou pelo tema "fraldas", mas ao mesmo tempo percebi que era demasiado complicado acertar no que a rapariga queria e achei que estava a fazer o mais indicado, dada a situação e a assumida resolução da tertúlia no parque de estacionamento, minutos antes. Chegado cá fora, ligeiramente inchado de contente com o acto de simpatia e solidariedade (detesto o termo caridade, mete-me engulhos!), entreguei-lhe o que tinha comprado para ela e deparei-me com uma expressão que não consigo descrever por palavras... Talvez descontentamento misturado com surpresa e uma ponta de total falta de consideração pelo meu gesto, mas o que é certo é que a miúda queria mesmo "farinha" (da-a!) para o tal bebé e deixou-me com uma das piores sensações de que há memória na minha paleta de emoções e sentimentos, quase em jeito de "soco no estômago". Depois de todo aquele esforço e atenção com alguém carecido, tive de me render à minha manifesta inadequação e entrar para o carro com a quase certeza do meu gesto ter sido em vão, de não ter havido lugar para qualquer tipo de reconhecimento e de ter passado por idiota... aos meus olhos, da pequena, do segurança e de qualquer um que estivesse naquele parque de estacionamento! Estou convicto que haverá quem passe fome por esses parques de estacionamento fora, mas tão depressa não me meto noutra.

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