Depois de algum tempo de interregno, em que andei... vá lá... de certa forma ocupado, volto ao meu cantinho no éter para os desabafos mais íntimos e devaneios insanos e descontrolados.
Durante este tempo tentei não deixar de cá vir e fui publicando coisas interessantes mas menos "minhas". Agora estou de volta e começo já a partir a loiça toda!
Saí de uma relação há poucos dias, que teimava em continuar quase que pelo seu próprio pé, e vejo-me envolvido, em alguma tristeza e mágoa, é certo, mas também em algumas conversas interessantes com amigos sobre o tema das relações, que me reforça a crença e a esperança nas possibilidades...
Perguntava-me uma amiga se eu gostava da parte da partilha do mesmo espaço, se sentia falta ou não e desenvolvi este raciocínio, que agora partilho aqui.
Eu gosto de partilhar espaço e tempo com alguém. A vida nos seus mais ínfimos e íntimos detalhes. Acho que é nessa construção que se vê se as pessoas são compatíveis. De certa forma, gosto até de apressar as coisas para chegar à fase em que realmente se partilha a vida com alguém, porque como dizia o John Lennon, '
a vida é o que nos acontece enquanto fazemos planos' e eu fartei-me de fazer projectos para um futuro que nunca chega. William Shakespeare também referiu que
'as expectativas estão na raiz de todos os males de amor' e talvez a melhor forma de estar bem e ter paz de espírito seja viver com simplicidade, dar muito, esperar pouco e amar de forma extravagante.
Nesta última relação, fartei-me de fazer planos, sendo que a
esmagadora maioria ficou por concretizar, mas também vivi muita coisa
interessante, importante e não menos efémera. As coisas mais simples
também ficam para sempre, se as revisitarmos, claro, e é essa a minha
postura. Pode parecer contraditório mas não é nenhum paradoxo.
Ir comer fora com alguém? Passear, sair à noite, ir a um barzinho, ao cinema ou até
ficar em casa a jantar quando ambos se apresentam cheirosos e bem vestidos? Isso é
fácil! Quem é que não se dá bem e não gosta do outro
quando há atracção, interesse e ainda ninguém retirou pedaço do seu escudo ou despiu uma única peça de
roupa!?
Quando o presente não se apressa e o futura não chega, é quando os envolvimentos se imortalizam. É talvez por isso, que quase toda a gente gosta mais dos inícios do que dos meios... já para não falar dos fins! Mas e intercalar os meios com os princípios de forma a nunca se chegar ao fim? Viver comprometido com o agora e de forma apaixonada cada momento que se nos apresenta, tentado fabricar boas memórias que podem ir alimentando o próprio presente, com sede de futuro, sendo esse o combustível da máquina da necessidade? Sem expectativas ou sem as deixar ganhar terreno. Não quero saber do lado solar de alguém, isso é
peanuts! A mim interessa-me saber como é 'aquela' mulher na minha cama depois de acordar; a fazer uma refeição ao meu lado, de mãos sujas e a cheirar a alho; a vermos dois ou três filmes de seguida numa tarde chuvosa em que se tenta passar a perna àquela depressão mensal tipicamente feminina; a ler cada um o seu livro sem falar pelo meio mas a trocar cafunés numa rede brasileira; a ouvir música, olhando nos olhos um do outro sem proferir uma palavra, mesmo sem nos tocarmos; calcorrear paisagens de mão dada; andar de mota a engolir quilómetros num abraço apertado... é isto que me interessa e não vou desistir dessa dança, voltando assim que me conseguir pôr de pé e arranjar parceira.