quarta-feira, 3 de agosto de 2005

No norte é tudo gente doida!

1º Postulado: se para os bimbos, a mouraria é pr’abaixo do Douro, para nós, o norte é acima do Tejo.
No seguimento do post anterior, sobre o Alentejo, lembrei-me de contar uma história engraçada que aconteceu aqui com a minha pessoa, yours trully.
Estava com uns amigos e amigas a passar o ano num dos locais mais bonitos deste país, Sortelha, situada entre as serras da Malcata e da Estrela, quando se passou um dos episódios mais insólitos que já testemunhei na primeira pessoa. Interessa saber que alugámos uma casa para 8 pessoas e tínhamos lenha e uma cozinha industrial à nossa inteira disposição; normalmente, quando chegávamos a casa (foram vários dias), já tínhamos a lareira acesa e 1 ou 2 baldes de lenha à porta para a alimentarmos durante a noite. Na noite da passagem de ano, acabou-se-nos a lenha mais cedo, e aqui o toni (eu!), ficou incumbido de ir buscar mais (buscar?? ehe, procurar!!). Passados 3 minutos de busca, dei com um brutal monte de lenha mesmo encostado à parede traseira da casa alugada, partindo do princípio que estava no terreno da casa (no Alentejo temos outra noção de espaço físico, terrenos, campo, hortas (!?), etc.), eu limitei-me a retirar uns míseros 4 ou 5 pauzinhos (1º erro, ingénuo). Já tinha alguns entre braços quando me aparece uma criatura (pessoa, que isto não é um filme de terror… é de suspence!) aos berros do outro lado da rua, num 1º andar, proferindo a seguinte barbaridade: “Gatuno! Gatuno! Tá-ma’roubar a madeira!!” (sem tirar nem pôr!); ao que eu retorqui, sem recalcitrar: “Não, tou só a tirar uns pauzinhos para a lareira” (2º erro, crucial). Atão não é que o velho me saca duma espingarda enquanto esbracejava violentamente à janela do prédio de dois andares, do outro lado da rua? – parece-vos de loucos? esperem pelo final. É óbvio que larguei tudo, pus-me a andar e fui a correr para casa. Abri a porta repentinamente, ofegante e incrédulo disse, enquanto retirava a chave do lado de fora da porta, “vem aí um velho louco atrás de mim por causa da lenha”. Toda, mas TODA a gente se cagou a rir. Imaginem o cenário: tudo com os copos (ainda não estavam bêbados, alguns!), a jogar às cartas, tocar viola e a cantar, etc., e deparam-se comigo neste preparo!?, também eu me ria! …15 segundos e batem violentamente à porta! AGORA cagam-se de medo, que eu vi nos olhinhos de todos eles. O mais bêbado de todos ainda deu uma risada solta, mas depressa lhe passou a besana e se pôs de pé. Passados alguns bons minutos (p’raí uns 20) a situação ficou resolvida com a ajuda do proprietário da casa alugada. Mas não acabou por aqui… festejámos até às 3h da manhã, no pátio frente à casa, sempre com o olhar vigilante do velho na sua varanda, e fizemo-nos à cama sem pensar na sequela. No outro dia de manhã, por volta das 14h, não havia nem um aparo, nem uma casca, no local onde, na madrugada anterior, havia alguns 40 contos de lenha. O velho insano carregou orgulhosamente, e talvez com os primos e sobrinhos todos (ái o que faz a consanguinidade), a lenha toda para dentro de casa ou para um quintal afastado, porque nunca mais ninguém viu pauzinho que fosse daquele monte, e não havia lenha no quintal frente ao prédio do velho, nada!
2º e Último Postulado: no norte é tudo gente doida!
I rest my case.
(este post deu origem a um novo blog: http://kanalhajavalim.blogspot.com)

Sem comentários: