quarta-feira, 26 de abril de 2006

Chico-espertismo

Formámos este país à beira mar plantado, fizemos as cruzadas, construímos naus, vimos o mundo e demo-lo a conhecer, espalhámos a nossa língua e cultura pelos quatro cantos do mundo, criámos um novo conceito de ninfas… as mulatas, entre tantos outros feitos notáveis e dignos de ficar nos anais da história universal (e por falar em anais, as Amoreiras), mas nada se compara à maior conquista de todos os tempos, a nossa obra-prima, a piece de resistance, a mui nobre e deslumbrante façanha… a invenção da chico-espertísse – trata-se mesmo de uma invenção e não de uma descoberta, porque aqui encaixa perfeitamente a frase “se não existisse teria de ser inventada”, e só poderia ser por nós! De facto nunca houve nada mais expressivo e significativo do que a nossa tão original e genuína forma de proceder perante a dificuldade, comummente apelidada de desenrascanso. É uma arte ancestral, praticamente milenar, apenas dominada por quem possua as características certas: com ou sem possibilidades para tal, com ou sem capacidade para mais, com ou sem dinheiro para isso, com ou sem buço/vasculho, homem, mulher ou criança, todo o tuga sabe orientar-se perante a adversidade e contra qualquer intempérie. Faz parte da sua essência, da sua natureza. Com ou sem carácter, repleto ou não de boas intenções, o bom do tuga usa a arte do chico-espertismo como um samurai manuseia o seu valioso sabre, mas com a excelsa vantagem de nunca sentir necessidade de realizar hara-kiri ou sepuku, nem adiantaria, haveria tantos para o substituir de seguida!? O expoente máximo do chico-espertismo encontra-se, por exemplo, na pessoa do Alberto João Jardim (poderia ter dito Major Valentim Loureiro, mas não me apeteceu), modelo do político tuga, mas poderíamos observar outros dignos exemplos como o típico taxista tuga, o característico trolha tuga, o alegórico empresário tuga, entre tantos outros! Genuínos visionários, verdadeiros Messias à sua especial maneira, têm um estilo muito próprio de se encaminhar por entre as gentes normais, até porque qualquer tuga pode ser um chico-esperto, trata-se apenas de uma questão de oportunidade, tal como nos diz a grande máxima: “a ocasião faz o chico-esperto”.

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