quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Trabalhinhos de verão

Quem é que nunca teve um trabalho de verão? Mesmo que não fosse nada de muita responsabilidade ou algo pontual, qualquer pessoa já dedicou algum tempo das suas férias para ganhar uns trocos ou mesmo para arranjar dinheiro para voltar para casa se o guito das férias já se tivesse acabado. No mundo dos trabalhos temporários e sazonais, com a constante necessidade de arranjar uns biscates ou um part-time, ainda há a motivação acrescida de encontrar o trabalhinho de sonho. Quer seja realizado durante o verão ou o resto do ano, de sonho é ter um trabalho daqueles em que não se faz muito, as responsabilidades são mínimas, ainda se avistam algumas raparigas, até podemos trabalhar para o bronze ou ficar num local em que se esteja à sombra, onde se possa dormitar uns bocadinhos, ouvir música, ler ou ver um filme no leitor de DVD portátil e eventualmente beber qualquer coisa fresca mesmo que não contenha álcool. Parece bem, certo? Pois aqui há uns dias apercebi-me que isso existe ou anda a roçar lá muito perto. Não é apenas uma quimera utópica. Depois da experiência que tive pelos meandros das forças policiais, da qual não me arrependo de forma alguma, acho que na altura escolhi foi mal a força policial. Se tivesse escolhido acertadamente talvez não me tivesse vindo embora. Confesso que não me importava nada ser da GNR, mas teria de ser da Brigada de Trânsito. Aprecio imenso aqueles tipos que ficam dentro dos carros descaracterizados com o radar instalado no pára-choques. Ficam ali tardadas a fio, estiraçados, a bater grandes sornas. E como os carros nunca são pequenos utilitários, têm espaço à bruta para encostar o banco e esticar as pernas, até dá jeito, pois passa mais despercebido. Os tipos da zona de Portalegre, Estremoz e Évora não fazem absolutamente caso algum do que as outras pessoas pensam. Dormem de vidros abertos e com a perna ou braços de fora, caso não tenham ar-condicionado, o que está de todo muito mal pensado, do ponto de vista das condições do posto de trabalho, ou então com o carro ligado e o a/c a funcionar. Eu já me dei ao trabalho de parar por trás e tirar fotografias, os tipos tão duríssimos de sono e não dão por nada. Grandes vidas! Tirando a parte chata que é a formação e o estágio, trabalhar-se por turnos e em horários complicados, e o notável abalo que nos dá à nossa estrutura individual o facto de nos vermos ao espelho e termos de admitir que, passados tantos anos e tanta patifaria típica de criança e adolescente, a dizer mal da bófia em tudo quanto era canto, algumas vezes, inclusive, a ter de fugir deles, nos tornámos naquilo que nunca, alguma vez, em tempo algum, pensaríamos ser possível, sem que de alguma forma fosse revestido de um invólucro de castigo ou tortura… não me parece assim tão mal. É tudo uma questão de feitio.

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