O blog que vai bem com meia dose de migas de espargos, uma caneca de Mokambo e um rebuçadinho de mentol.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Brasiu!
O que dizer do Brasil? Bem, de facto eu não conheci o Brasil, estive na Bahia, que é bem diferente. Aquela zona do país caracteriza-se pela harmonia perfeita entre povos: africanos, europeus e nativos. Não há brancos em lado nenhum, só os turistas (portugueses, espanhóis, italianos, americanos). Oitenta e tal porcento da população são pretos ou mulatos, os brancos não se notam porque estão torrados do sol. Aquela gente respira e transpira talento, na música, na dança, nas artes plásticas, em tudo e mais alguma coisa; no resto do Brasil costuma dizer-se que na Bahia tem muito talento… talento, tá lento… são os alentejanos lá do sítio! Não há stresses nem complicações. São calmos, pacíficos, profundamente ecológicos e preocupados com a Natureza, exageradamente religiosos e extremamente supersticiosos. Cumprem os rituais do Cristianismo (catolicismo e protestantismo) e do Candomblé no que a festas e feriados diz respeito. Costumam dizer que pelo sim, pelo não, mais vale rezar a todos! Festas é com eles, estão constantemente em festa. Dezembro, Janeiro e Fevereiro é tempo de Verão e Carnaval, uma só festa contínua e sem fim. No resto do ano é festa também, sempre. Eles lá vão arranjado desculpas e justificações para a boa disposição, que essa nunca falta. E tem de ser assim, porque a vida no Brasil é muito difícil! É uma dos países mais ricos do mundo em termos de recursos naturais e de facto há muita gente rica e podre de rica – vários prédios com cerca de vinte andares em que cada andar é um duplex com uma área brutal (talvez mais de 250m2) por volta dos 300.000 contos, com estacionamento para 3 carros por apartamento, marina privativa, varandas rotativas, muito ao jeito do Dubai, foi o que pensei na altura em que via e iam descrevendo, etc. – mas há muito mais gente pobre (pobreza extrema, se é que sabem o que isso é!) do que classes média, media-alta, alta, altíssima e extratosfericamente alta. Os combustíveis são praticamente do mesmo preço que em Portugal (são independentes na exploração de petróleo!), os restaurantes, cafés, bares, supermercados e shoppings têm preços tão ou mais altos quanto os nossos, e o nível de vida é, em média, igual ao nosso, mas o salário mínimo anda por volta dos 300R$ (+/- 150€). Só não percebi como seriam o preço das casas, apartamentos, carros e custos de água, gás e electricidade, mas fiquei espantado ao perceber que não há carros velhos e é raro ver-se um fusca a circular – a lei obriga a actualizar os carros velhos e torna-se incomportável, só os mais endinheirados têm carros antigos e clássicos e esses estão em garagens. A zona do Estado da Bahia, próxima do Equador que está, só tem duas estações: o Verão e a estação de trém. Está sempre calor e as temperaturas oscilam entre os 27ºC no Inverno e os 35ºC no Verão. Chove quase todos os dias mas eles não se preocupam em nadjica de nada – quem anda a pé ou de mota (só há motas de 50cm até 250cm), por exemplo – porque para eles não chove… rega! …e é uma chuva quente que não altera em nada a temperatura ambiente. As gotas são pouco espaçadas mas muito miudinhas, molha mesmo mas seca tudo num instante. A Baia de Todos os Santos é enorme e tem 55 ilhas, algumas delas do tamanho da cidade de Évora. A cidade de São Salvador da Bahia é linda e muito parecida com as nossas em Portugal (365 igrejas católicas na zona velha e zona histórica, uma para cada dia do ano, referem eles) em termos arquitectónicos e urbanísticos. Foi a primeira cidade e primeira capital do Brasil e tem Portugal presente em todos os recantos e pormenores (calçada à portuguesa, painéis de azulejos, etc.). A zona histórica, denominada de Pelourinho, ou Pelô, é composta por ruas de calçada antiga, casas todas recuperadas e de todas as cores, igrejas até mais não (carregadinhas de ouro que até faz impressão), barezinhos com esplanadas e muita música, música também na rua (Samba, Axé e alguma Bossa Nova), dança, baianas e mães de santo em quase todas as esquinas, escolas de artes patrocinadas pelos músicos e artistas baianos como o Carlinhos Brown, Caetano Veloso, Ivete Sangalo, Netinho, entre outros (destinadas a tirar as crianças das ruas e educá-las), casas de artesanato, lojas de roupa, a casa do Jorge Amado (Fundação e Museu), a casa do Preto Velho, onde se vende rapé que cura tudo: dores de cabeça, sinusite e roncaria (é mesmo a casa dele com a porta e a janela aberta, a malta entra lá dentro, espreita, conversa com ele e compra rapé), e muita vida e Axé – significa energia e força. É de facto uma cidade fantástica! As frases “Alegria, alegria, que estamos na Bahia!!” e “muito axé p’rá você!!” ouvem-se repetidas quase até à exaustão, novos e velhos, transeuntes, guias turísticos ou vendedores ambulantes. Aquelas pessoas são intrinsecamente alegres e transmitem isso a toda a gente, sem excepção. A eterna questão da insegurança nas ruas não se nota, acreditem. Eu andei em grupo mas fiz algumas escapadelas por ruas estreitas para fotografar tudo e mais alguma coisa e nunca tive problemas. Há câmaras de segurança em todo o lado (ruas, lojas, onibus, praias) e muita polícia (militar, não há polícia civil, isso é que se estranha, mas é uma questão de hábito). Vi também muitos estrangeiros, típicos gringos brancos, completamente à vontade com câmaras fotográficas reflex, digitais compactas, roupa normal (não é só t-shirt, calção e havaianas como no Rio ou São Paulo… atenção que São Salvador da Baia é a 3ª maior cidade do Brasil, 3 milhões de pessoas só na cidade e 4 milhões e meio na zona metropolitana) e comportamento comum de turista. Fiz a zona da baia de barco, fui à Ilha dos Frades, onde deixavam os escravos trazidos de África a engordar antes de serem vendidos – eles convivem muito bem com o passado, não têm vergonha de nada. Visitei a Praia do Forte (“na praia do forte com o farol apagado”, Milla do Netinho), que é um sítio incrível e verdadeiramente indescritível, vão lá vocês ver! Fiquei a perceber que o preconceito que nutria (subconscientemente) sobre a alegada ou suposta música pimba brasileira não faz sentido algum. Axé Music não é pimba, são temas bem tocados por excelentes músicos, de ritmo vibrante e revitalizante/revigorante, com letras simples e por vezes românticas (naif). Cá soa estranho, mas lá faz todo o sentido! As praias são paradisíacas, coqueiros, palmeiras e bananeiras quase até ao mar e a água, que sem ser caldo, é bem quente. A comida é belíssima (fruta, saladas, carnes, bobó, moqueca, etc.), os sucos e as caipirinhas são excelentes (caipiroscas feitas com fruta esmagada no momento). Finalmente, uma última nota menos positiva: os tugas só estranharam o marisco e o peixe (não sei, porque não aprecio), que aparentemente não é tão bom como o de água fria e não é preparado/cozinhado como cá, pelos vistos é barato mas não é bom! Não há mais descrição ou detalhe que possa mostrar o que é a experiência de lá estar e viver aquele ambiente. Vale a pena lá ir!
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