domingo, 18 de abril de 2010

Há dias assim...

A vida não está fácil! Tudo parece instável e em constante mutação. As relações e envolvimentos emocionais tornam-se mais práticos e menos românticos com o passar dos anos. As pessoas que orbitam à nossa volta, especialmente os que vestem a nossa camisola, fazem as suas escolhas mais ou menos conscientes, casam-se e têm filhos, dedicam-se às suas carreiras e a cumprir escrupulosa e minuciosamente os planos de pagamentos de casas, férias e todo o tipo de veículos e gadgets tecnológicos e não se dá pelo tempo passar, mas ele passa e a que velocidade! Esta instabilidade estúpida e manipuladora, criada nos mercados económicos, de trabalho e sociais, parece servir de combustível a uma máquina montada para manter artificialmente este cenário sem cheiro e cor mas de sabor altamente ácido e metálico em que a crescente podridão humana fundamenta uma suposta e presumível prosperidade individual que parece não ter fim.

As consciências individuais e comuns estão no centro de uma circunferência mediática e circense que alimenta dissimuladamente e quase por via intravenosa as nossas genuínas aspirações a sermos felizes, completos, quase perfeitos e deixam os nossos egos numa pirâmide invertida que mais parece uma parábola em fase descendente, mas que é verdadeiramente uma espiral negativa e incontrolada. Partimos do errado pressuposto que precisamos de certas coisas que nos fazem absolutamente falta nenhuma. Deixámos de ligar aos mais velhos, de dedicar tempo aos mais novos e perdemos o respeito por nós próprios quando nos tornamos insensíveis ao juízo de alguns e à eternamente útil e outrora sempre presente auto-crítica. Temos tanto a aprender com os outros, connosco próprios e com a vida e devia ser esse o nosso único "jogo" durante o tempo que cá estamos. É precisamente com base nisso que tento dar-me a quem aprecio desta forma simples e honesta, sem jogos, sem rodeios, sem hesitações. Porque a vida não é feita para perdermos tempo, senão para ganharmos momentos de qualidade, bem temperados, bem passados e guardarmo-los na nossa memória apenas, não em ficheiros, subpastas e redes virtuais. O mundo não se quer guardado numa caixinha alimentada electricamente e climatizada à temperatura ideal, até porque essa é a melhor forma de ganharmos pó e potenciar um curto-circuito que pode ser forte demais ou vir demasiado tarde para permitir inverter todo um processo de estupidificação, por vezes sem retorno.

As coisas boas deste universo são para serem experienciadas e vividas com intensidade e fulgor, sem indecisões ou perplexidades. Esta viagem, que iniciamos apenas com a roupa que trazemos vestida quando chegamos ao mundo, pode terminar com uma bagagem imensa e por demais interessante. Passamos muito tempo sozinhos, é certo, mas nunca devemos estar sós e optarmos sim, por apostar sempre em nós a nível emocional até ao momento de conhecer a(s) pessoa(s) certa(s)... não perfeita(s), certa(s)! Parecendo que não, isto revela-se ser de extrema importância, pois mesmo passando muito tempo sozinhos, muitos kms percorridos, alguma gente que não nos diz muito e outra tanta que não nos diz nada, não nos podemos deixar ir abaixo e perder o norte, o nosso norte! Acima de tudo é uma questão de perspectiva, postura e verticalidade.

Como homem serei mais um, um pouco diferente é certo, mas não especial, mas como pessoa trago sempre comigo essa bagagem interessante e única, com tudo o que isso tem de bom, menos bom e mau, mas afinal qualquer pessoa pode ser e é interessante à sua maneira. Não temos de gostar de tudo e todos, respeitando sempre, claro, e o que é de máxima importância são as ligações que se criam entre pessoas, seja a que nível for, e eu cultivo isso, sempre! Faço questão de me rodear de pessoas "especiais" e isso traz-me muita coisa positiva e aumenta exponencialmente o meu ângulo de visão, a minha perspectiva, o meu horizonte, e quase numa base diária. Esta vida é um momento único - ainda que longe de ser perfeito - para vivermos tudo intensamente, sem arrependimentos e da forma mais confortável que conseguirmos encontrar.

Os maus momentos que atravessamos podem e devem ser fases importantes para nos equilibrarmos, ganhar mais conhecimento sobre nós próprios e o que nos rodeia e conseguir um pouco daquilo que é talvez a coisa mais importante para todos nós e muita gente confunde com felicidade, que essa é sempre, sempre momentânea e pontual, normalmente esporádica ou sazonal e por vezes até aparentemente aleatória, mas paz de espírito, uma vez alcançada, ninguém a pode roubar... só nós mesmos! Viver, seja como e quanto tempo for, é sempre uma experiência em que devemos investir tudo o que temos.

Hoje estou bem disposto e a alguém o devo...

7 comentários:

Anonymous disse...

Antes da merda em que se tornou:

"Como é que lhe dás?... Eu dou-lhe com a alma... Como é que dás? Eu dou-lhe com a alma..."
Da Weasel

Dá-lhe com alma. :)

Ju disse...

Há instantes em que a vida se transforma numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. A espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver.

Gandim disse...

fantástico Joana! mas não me surpreende porque conheço bem o que escreves! ;)

FAZ UM BLOG, VÁ!!!

Ju disse...

Como que em forma de "réplica" às frases Nicola... "Um dia vou fazer um blog. Hoje é o dia." ;)

Anonymous disse...

Enriquecedor:)cm tudo o q se pode ler neste blog;)é importante alertar as pessoas p um estilo de vida q "adoptámos",mesmo inconscientemente,mas q deixa pelo caminho valores mt importantes.Que ao fim ao cabo deveriam ser a verdadeira essência da vida:As ligações humanas.E o tempo n pára...Obrigada ao Autor;)))

Patricia disse...

"(...) if you can fill the unforgiving minute with sixty seconds worth of distance run - Yours is the Earth and everything that's in it (...)".

Paz de Espírito. Gosto! Da Paz. E do Espírito. Bjs

Patricia disse...

Automáticos...tornaram vida como automática..regida em leis dissimuladas, atitudes ditas conscientes...assumiram a razão como aquisição de status e bens.A grande maioria dos que vagueiam nas ruas da vida, fazem-no de cabeça baixa, acorrentados a superficialidades e conquistas materiais...estão deveras enganados nessa vida estável..não é estabilidade mas sim vazio...
Viver a brisa, o por do sol, um banho de limpeza interior num mar ainda primaveril...as pessoas esqueceram-se de viver, começaram a programar-se com possibilidade de definição quase certeira da sua vivência nas próximas décadas...
Vivam a incerteza, o acaso que constrói a vida, a sabedoria da liberdade, o encantamento dos sentimentos, a dor dos erros e das ausências...e nunca se conformem e limitem a viver numa zona de conforto. Pois ela conforta, de facto, mas mata mesmo antes desse fatalismo biológico chegar...
Não queiram largar a essência e grandeza das sensações simples.