quarta-feira, 13 de julho de 2011

Presente, Passado e Futuro

Texto escrito para a Frente Alentejo, com base num outro que já tinha publicado aqui no blog...


Vive-se no presente mas também se vive no passado e no futuro, vive-se em todo o lado!

Sem pressões, sem ansiedades, é bom alimentarmo-nos de coisas que nos fizeram ou poderão fazer bem e mal, sentir o presente, projectando-o para agora, mas não somente ao sabor do vento, e enveredar por uma maneira diferente de olhar as coisas e o mundo, numa nova forma de conhecer a vida a cores e a fundo.

Evitar caminhos normais e habituais, trilhando novos percursos físicos e veredas mentais alternativas. Num arrepiar de sentido ou numa mudança de direcção, é a melhor forma de atingir o que desejamos e, ao mesmo tempo, estranhamente, chegar onde ou como nunca esperaríamos vir a estar.
Como que realizar objectivos sonhados, guiados por ideias e realidades aumentadas pela imaginação mas também pelos sentidos, viver só para o momento até pode parecer uma loucura, um devaneio egoísta que revela inconsciência e inconsistência, mas a experiência da novidade, a inquietação do desconhecido e a envolvência da descoberta podem ser tão consistentes como a frequência da normalidade.

Um trilho novo pode ser um desafio mas também é uma alienação, momentânea ou irreversível. Há quem goste, há quem se vicie e há quem consiga ignorar ou virar as costas ao que está para lá do que é facilmente atingível com o olhar. A mudança que nos leva a essa alteração de postura pode realizar-se em pequenos e mundanos gestos como a leitura de um livro, o visionamento de um filme, conhecendo pessoas e lugares, conversando e debatendo ideias opostas ou consequentemente engrenáveis ou até por pura e simples frustração! Por vezes, sem querer e até mesmo contestando, mudamos! E mudar pode não ser necessariamente para melhor mas é sempre bom!

É igualmente bom dedicarmo-nos a compor essa mudança através da orquestração da alegria dos outros com a nossa simpatia, boa vontade e por meio de gestos solidários de preocupação e cuidado interessado. No fundo estamos todos ligados num entrelaçado de emoções, sentidos e vontades, no passado e no futuro desta fantástica viagem que vale acima de tudo pela paisagem.

O nosso caminho deve ser traçado por múltiplas veredas coloridas e animadas, cortando esquinas de avenidas cinzentas, fadadas por um confortável torpor pós-prandial de gente a aboborar numa quietude terrível, dispostas em vias largas, limitadas apenas pela velocidade da luz mas que não alcançam muito mais que um palmo à frente do nariz, do teclado ou do capot. Pessoas consumidas por esse nevoeiro denso e morno que amedronta e incapacita mas que não é de todo irreversível e até nos ajuda a achar o ritmo para o tempo certo.

Todo o salto carece de equilíbrio e de uma contagem decrescente, só não convém começar nos 100… um, dois, três… a ideia é encontrar novos itinerários, frescos e arejados, num rumo incerto mas conducente à desejável paz de espírito individual e à consciência da felicidade comum.

É simples e mais fácil do que se pensa, ou se calhar o melhor é não pensar muito!


in Frente Alentejo nº3 Maio/Junho

1 comentário:

Margarida Alegria disse...

Há textos que apesar de nos cativarem à primeira, precisam de tempo...precisam ser lidos no passado, no presente e no futuro (e a ele, provavelmente, voltarei), como a tantas outras paisagens...paixões revisitadas.

O que digo não é nada de novo e o mais provável é no fim ser tudo menos um comentário e acabar a falar de mim, mas poderei eu falar do outro sem que isso aconteça...?
Se o fizer, não estarei a demitir-me do meu papel?
Viver é sentir (sentimos nós!), e por isso escrevo o que sinto, nada mais... porque quando li e reli este texto senti com o corpo (e nele incluo - aquilo de que tanto gostamos, nós, Homens, de falar - a alma, pois para mim ela não é separável do corpo físico, não sobrevive à morte).

Senti a paisagem, as paisagens, com todos os sentidos.
Um dos enganos do Homem é estar, muitas vezes, aprisionado à visão, aniquilando os outros sentidos, talvez por este nos parecer mais imediato, ou simplesmente, por medo...
Medo de fechar os olhos e ouvir,
medo de fechar os olhos e saborear,
medo de fechar o olhos e cheirar,
medo de fechar os olhos e tocar,
...medo...
medo do passado, do presente e do futuro.
Somos um animal de medos, como todos os outros animais, e isso não tem mal nenhum!
Mas o nosso maior medo nasce provavelmente no acto de pensar. Pensamos demasiado, pensamos tudo, pensamos antes de dar um passo, pensamos antes de nos darmos, e se pensarmos bem, isso não é caso para estranhamentos, pois “dar” é um gesto de exposição...perder o anonimato...e isso pode ferir.
Dar deixa marcas. Cicatrizes porque não?!
Mas haverá liberdade sem angústia, paixão sem dor?
Como podemos viver a paisagem se não tivermos a capacidade de sonhar?

Sou uma mulher de medos...
Uma mulher capaz de enfrentar o mundo, de se ferir de morte com e pelos outros, mas cansada, por medo, de lutar pela sua própria liberdade de, simplesmente, sentir o que sente com o corpo todo...sentir a sua paisagem, por medo de ser só dela (quando partilhamos uma paisagem esses medos diluem-se e desaparecem, talvez surjam outros...dúvidas talvez...não medos)
Seria mais fácil para ela se não tivesse medo de sentir egoisticamente, sem medo de se ferir, de perder, de morrer? (sem melodramas, a vida não é uma novela, felizmente!)
Como pode ela viver com meias liberdades? Ou é ou não é!
Por vezes pergunta-se se vive ou se passeia...?

...

Engraçado...chego ao fim, releio o teu texto e o meu, não chego a conclusão nenhuma, muito menos se o que escrevo faz sentido, pelo menos, por si só ou com o que escreveste, e a verdade é que nada disso importa quando me deparo com o facto de que falei de mim na terceira pessoa e isso sim importa...ou talvez não...tanto faz.
Saí de mim para falar de mim...saí de mim para me confrontar comigo própria...suspendi o meu eu para falar de liberdade...talvez por medo de sentir tudo isto em mim...mas se tenho medo como posso falar de liberdade? Pois não é o medo o assassino da liberdade?
É mais fácil sentir a paisagem, lá isso é verdade!

Como já havia dito noutras paragens, espécie de apeadeiros na beira da estrada, "o melhor é não pensar muito" e ver com todos os sentidos a paisagem...