O blog que vai bem com meia dose de migas de espargos, uma caneca de Mokambo e um rebuçadinho de mentol.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
A humanidade e o tampo da sanita
O tampo da sanita será dos objectos mais enigmáticos que poderemos encontrar nas nossas casas. É claro que alguém poderia, e bem, contra-argumentar referindo que há o poutpourri no 'ólio' de entrada, os ambientadores de armário ou as bolas de naftalina, as velas altamente decorativas que nunca mas nunca se acendem, nem naquela noite de consoada às escuras ou no aniversário em que a avó se esqueceu de colocar velas no bolo de anos do neto, um candeeiro cuja lâmpada de fundiu e nunca mais se substitui porque só nos lembramos quando o tentamos acender e nunca quando vagueamos pelos corredores do supermercado, entre muitos outros exemplos, uns mais funestos do que outros. Volto à questão da casa de banho porque é a divisão da casa que mais me fascina. Vibro com muitas outras coisas na minha casa, mas o wc é de longe o mais apelativo. É a divisão mais fácil de apreciar e criticar ao mesmo tempo. Não há grandes móveis, gaveta ou baús para esconder as coisas, ficando quase tudo à vista. As mulheres adoram todas as casas de banho, quer seja num restaurante, hotel ou em casa de amigos, adoram ir espreitar! Nos bares e discotecas pelam-se por ir em par ou trio, e para fazerem fila esperando a vez de cada uma não é de certeza, a não ser que isso meta conversa, e esta conversa pode ser sobre os mais ínfimos assuntos, não necessariamente sobre a própria casa de banho. Voltando à questão do tampo da sanita, prometendo não voltar a falar sobre os tampos translúcidos com objectos no seu interior, lembrei-me destes serem um dos assuntos que mais opõe e divide os sexos. As mulheres queixam-se dos homens deixarem o tampo e a tampa levantados, encostados ao autoclismo ou à parede, numa verdadeira – dizem elas – atitude desrespeitosa e indelicada para com ou vários utilizadores da dita casa de banho. Por outro lado todos se queixam das pinguinhas que por vezes algumas almas mais descuidadas ou com menos tendência para o número circense deixam no tampo sem se preocuparem em limpar, talvez porque nem se preocupem com mais nada além do alívio oportuno. Depois também há, e já foi referido anteriormente, os que se sentam para mijar quando muito bem o poderiam fazer de pé. Pois que a natureza os brindou com essa fantástica mais valia em detrimento da capacidade de ter orgasmos múltiplos, por exemplo, que só as mulheres podem ter – a capacidade e os próprios orgasmos, dois momentos bem distintos – que por força das circunstâncias mijam sempre sentadas ou de cócoras; estes são os verdadeiros artistas. O que me ocorreu, e bastante me apraz relatar, é que as mulheres, no alto da sua (des)preocupação, também deixam a tampa para cima, e isso chateia os homens, alguns! Passo a explicar: os homens levantam tampa e tampo para poderem mijar de pé; as mulheres e os tais artistas levantam apenas a tampa para mijarem sentados. O mais comum é toda a gente deixar a sanita em constante e eterno estado de premente utilização. Sendo assim, porque é que só as mulheres é que podem queixar-se dos homens deixarem o tampo levantado? Eles não se podem queixar-se delas (e dos artistas) deixarem a tampa levantada!? Há um sem número de razões pelas quais tudo deve estar no seu lugar, nomeadamente o tampo e a tampa em baixo, mas apenas ressalvo a mais importante: pode cair alguma coisa valiosa para aquele buraco negro de loiça e quando isso acontece, sendo de facto algo estimável ou insubstituível, torna-se no mínimo chato ter de arregaçar a manga para retirar o que quer que seja que lá foi parar. Pois que tirar aquilo com um utensílio de cozinha ou de jardim não dá assim tanto jeito, mas convém sempre tentar primeiro. Isto é como fazer piscas nas rotundas. Não sejam preguiçosos e deixem as coisas na sua devida disposição, tampo e tampa para baixo, mas acima de tudo tenham atenção ao sentar-se. Façam-no depois do anterior utilizador se ter levantado. Não convém criar embaraços e confusões num espaço tão exíguo.
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