domingo, 30 de setembro de 2007

Barulhos inconvenientes

Há todo um conjunto de regras sociais aceites pela grande maioria das pessoas e também há umas quantas excepções, as tais que as confirmam, que dão um gozo brutal a quem tem a coragem para destoar e divergir dos demais. De entre os vários barulhos inconvenientes incluídos no cardápio das regras sociais, fazer barulho com a palhinha nos restaurantes e cafés quando o líquido está no final do copo é talvez dos que mais prazer me dão. Não só pela reacção imediata das pessoas que estão à volta, como pela sensação de que estou a beber a totalidade de uma bebida que gosto, não sobrando nada que seja inatingível, como por vezes acontece nos pacotes de litro de sumo, aqueles que têm a saída ao centro no topo do cartão e que deixam sempre umas gotas preciosas no fim, mas também porque me faz voltar aos meus tempos de puto em que não havia pruridos em fazer disparates, faziam-se e pronto, depois logo se sofriam as consequências. Pegando nesta ideia, havia outras coisas que adorava fazer e ainda hoje faço sempre que tenho oportunidade, seja onde for: liquefazer pudim ou gelatina com o poder de sucção da boca a passar entre os dentes. Mete nojo!? Paciência, é belíssimo!! Há os peidos furtivos nos elevadores, deixando toda a gente aflita. Uns porque estão a contar com o mau cheiro típico que se aproxima dissimuladamente, outros porque se desnorteiam a tentar perceber quem terá sido o animal que o fez deflagrar. Depois há o espirrar com toda a força que lhe é caracteristicamente natural, inclusivamente já ouvi dizer que se podem perder os olhos das órbitas por conter um espirro, de preferência utilizando palavrões bem escabrosos enquanto se liberta a morraça encalacrada. Experimentem fazer isto, é do melhor que há! Por fim, um gozo que descobri recentemente, porque sofro de rinite e sinusite e tenho a garganta constantemente entupida, que é aclarar a garganta com um pigarrear artístico. Passo desde já a explicar! Se temos de fazer aquele barulho chato e incomodativo – erh, erh – porque não fazê-lo com excertos de áreas de óperas famosas ou pedaços de música clássica? A vida em sociedade pode ter muitas normas que a definem e regulam, muitas vezes aprisionando-nos num cinzentismo deprimente, mas há toda uma quantidade de coisas que se podem fazer para tornar a coisa mais interessante e colorida. Aos poucos, em arranques impulsivos que roçam quer a timidez quer a arrogância, vou tentando mudar o estado a que nos deixámos chegar através de uma loucura que espero ser saudável e minimamente desafiadora.

1 comentário:

paulo disse...

gostei em particular do sons no elevador. às vezes dá cá uma vontade!!
e o som do sovaco?