Continuando a tecer considerações e críticas à volta do tópico dos últimos posts, devo admitir que não vejo que o problema esteja na forma dos Morangos Com Açúcar mas sim no seu conteúdo e no que está por trás, nos bastidores da produção. Com a Rebelde Way não chego à mesma conclusão. A TVI aposta sempre muito forte e ganha, já a SIC parece ter perdido o toque de Midas dos seus primeiros anos de existência. A série Rebelde Way é um verdadeiro esterco na forma, no conteúdo, na apresentação e na representação. A TVI já provou que a fórmula resulta e em vários níveis: entretenimento, plataforma de lançamento de novos artistas, intérpretes e músicos (os músicos não se medem só pela “obra” mas também pelo que constroem à sua volta quer em estúdio, quer em palco, dando rodagem a muitos outros músicos, letristas, compositores e intérpretes), escola de actores (têm saído sucessivas fornadas de bons actores que a SIC não consegue criar e só vai apanhando em jeito de refugo) e uma incrível e bem oleada máquina de cross-selling como nunca se tinha visto em Portugal. Se bem se lembram, não foi a TVI que começou esta guerra das séries para jovens, foi o canal Público que deu os primeiros passos nesse sentido. A RTP foi a responsável por tudo isto num primeiro sinal do que viriam a ser as actuais séries para jovens em Portugal com a série Riscos, que se revelou um flop. A série era uma autêntica bosta e a RTP falhou porque achava que iria educar as criancinhas e jovens de forma moralizadora e patética, em termos de conteúdo, e com uma aparência ridícula e até algo descontextualizada. Depois a SIC pegou no trabalho feito pela Globo mas não soube ou não quis investir um pouco para mais tarde colher os frutos que caíram no cesto da TVI com a introdução dos Morangos Com Açúcar como parte integrante do seu pacote de produção nacional que tem sido a base do sucesso daquele canal privado, merecedora da atenção de muitos estudiosos de publicidade, marketing, sociologia, psicologia e gestão de empresas por esse mundo fora. O que me parece fazer sentido não é a descontinuação destas séries (e de outras), voltando a ter uma televisão cinzentona e deprimente. Acho muito bem que mostrem às crianças e ao jovens, que se vão fazendo pessoas – porque isto já dura há bué – que a vida pode e deve ser divertida. Concordo que tenham publicidade a alimentá-los. Aceito que seja uma coisa completamente mainstream, aliás, isso é o que pode e deve ser usado como “arma de educação das massas”. Parece-vos forte este termo!? Então o que é que os pais, os familiares, os amigos, os colegas, o Estado, os padres (nem acredito que escrevi isto!) e os demais conselheiros espirituais, os psicólogos e psico-terapeutas e toda uma parafernália de gente com responsabilidade na educação e condução dos nossos futuros enquanto Sociedade supostamente devem fazer? Não é educar!?!? Educar não é manipular, pelo menos não no meu ponto de vista. Não nos podemos demitir dessa função que é das mais básicas que temos como seres sociais. Até a nível individual nós temos essa função e responsabilidade! Nós também nos educamos a nós próprios a todos os níveis e em todos os momentos das nossas vidas. A televisão foi inventada para entreter… ok, não vamos mudar esse princípio, apenas vamos orientá-lo para o crescimento e amadurecimento da Sociedade, para o progresso de todos como Humanidade. Os pais que hoje deixam os filhos verem os Morangos Com Açúcar e por vezes até se queixam disso, são os mesmos que viram o Big Brother, o Big Show Sic e assistem no mesmo sofá, mas num horário diferente, aos noticiários, ao Momento da Verdade e a tudo quanto é lixo e esterco televisivo. (Quase) tudo pode ser aproveitado para um bom fim, uma finalidade comum, mesmo aquilo que nos parece mais inócuo ou, pelo contrário, mais eficaz ainda que apontado no sentido errado. O que eu espero nunca fazer é cair no erro do conservadorimo e na falácia do pseudo-fascismo higiénico que me limita a observação e capacidade de acção. Tento sempre (conscientemente) não me colocar num patamar intelectual supostamente superior ou oportunisticamente oposto, confrontando as coisas sem as observar na sua plenitude, reflectir sobre elas na sua complexidade e opinar acerca delas a priori e sem as experimentar. Eu vejo tudo o que dá na televisão e só não consigo é estar muito tempo – tipo mais de 30 segundos – a ser bombardeado com música pimba, mas até acho que não é defeito meu, é feitio!
Se as crianças e os jovens puderem ter um acesso moderado, equilibrado e com conhecimento de causa (causa aqui é o que os “guias” pais tiverem para dar a conhecer e ensinar) a tudo, sem medos e sem receios, ainda que não tenham de experimentar literalmente tudo o que existe, pois há coisas que nem carecem de se passar por elas para se saber como elas “mordem”, não haverá desequilíbrios ou experiências traumatizantes que os desorientem no percurso a fazer até se tornarem adultos. Esta foi a educação que os meus pais me deram, a postura de vida que tenho e a ideia que espero transmitir aos meus filhos quando os tiver um dia.
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