sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Morangos rebeldes

Este texto que vos deixo em baixo aparecia num email que me enviaram, e que eu reencaminhei, abstendo-me de comentar por achar que não havia necessidade, pois estava tudo lá e até de uma forma bem humorada. Entretanto, se calhar porque a malta está habituada a vir ler estas coisas no blog, mesmo quando são citações e não originais, responderam ao email em jeito de comentário e até houve quem achasse que tinha sido eu a escrever. O texto está muito engraçado e interessante mas não é meu apanágio escrever o que penso e sinto sem assinar por baixo.
Aqui fica o texto e os comentários:

A SIC montou uma gigantesca campanha de promoção para a sua nova série/novela/monte de merda, que dá pelo nome de Rebelde Way. Depois de anos a apanhar bonés, percebeu que a melhor maneira de combater a morangada da TVI era...imitar. É lógico. Era inevitável. Depois de 20 minutos a ver a nova série (o que me provocou uma crise de cólicas da qual só um dia depois começo a recuperar) sinto-me preparado para uma análise. Bora lá. A fórmula é a mesma nos dois canais. Aqui fica a receita

1 - Pitas boas. Muitas, quanto mais descascadas melhor (as séries de verão são, naturalmente, as melhores, porque eles vão todos juntos para a praia).

2 - Gajos "estilosos". A coisa divide-se em dois: há aqueles que têm quase 30 anos mas fazem de adolescentes, e depois há os que são mesmo adolescentes. Estes últimos são aqueles que se levam a sério enquanto "actores". O requisito essencial para qualquer gajo que entre nestas séries é ter um penteado ridículo

3 - O Rebelde Way tem gajas do norte. Fazem de gajas daqui, mas aquele sotaque é fodido de perder. Fica ridículo, mas as gajas são boas.

4 - Nos Morangos, a palavra "pessoal" é dita 53 vezes por minuto, normalmente inserida nas frases "Eh pá, pessoal!", no início de cada conversa, ou então "Bora lá, pessoal", antes do início de qualquer actividade.

Agora vamos à bosta que a SIC acabou de parir, com pompa, circunstância, varejeiras e mau cheiro. Chama-se Rebelde Way. Cool, man! O slogan dos Morangos era "Geração Rebelde", mas a inspiração deve ter vindo de outro lado, de certeza. O que me irrita na poia da SIC é que os gajos são todos betinhos (até os mânfios são todos giros e cool e com uma caracterização ridícula, como se fossem a um baile de máscaras vestidos de agarrados ou arrumadores de carros). Mas depois são bué rebeldes. São bué mauzões, man! A brincar com os seus iPhone, com as suas roupinhas fashion, grandes vidas, mas muita mauzões

Se há algo que esta geração de morangada não pode ser, não tem direito a ser, é ser rebelde. Rebelde porquê, contra quê? Nunca houve em Portugal geração mais privilegiada do que a actual, à qual esses putos pertencem. Nunca qualquer puto teve tanta liberdade e tanta guita no bolso como esta malta. Nunca as pitas foram tão boas e tão disponíveis para foder com a turma inteira como agora. Nunca houve tamanha liberdade de mandar os pais à merda e exigir uma melhor mesada porque é altura dos saldos. Rebelde porquê? Em nome de quê? É claro que isto são pormenores com os quais as novelas não se deparam, nem têm de o fazer. O objectivo é simples: para uma geração tão privilegiada como aquela que é retratada, há que criar uma rebeldia fictícia, porque não é cool ser dondoca aos 16 anos. Mas é o que todos eles são. Há uns tempos vi, no Largo do Carmo, um bando de uns 15 putos e pitas, vestidos à "dread" com roupinha acabada de comprar na "Pepe Jeans". Um dos putos que ia à frente, não devia ter mais de 16 anos, vem a falar à idiota como se fosse dono da rua, saca duma lata de tinta e escrevinha qualquer coisa de merda na parede. Todos se riram, todos adoraram, e ele foi, durante cinco minutos, o maior do bairro. Não fiz nada, mas devia ter-lhe partido a boca toda. Todas as últimas gerações antes desta (incluindo a minha, a Geração Rasca, que se transformou na Geração Crise - bem nos foderam com esta merda) tiveram de furar, de lutar, de fazer algo. Havia uma alienação mais ou menos real, que depois se podia traduzir nalguma forma de rebeldia. Não era o 25 de Abril como os nossos pais. A nossa revolução é a dos recibos verdes e da consolidação orçamental. Mas esta morangada sente-se, devido à merda que a televisão lhes serve e aos paizinhos idiotas que (não) a educaram, que é dona do mundo. Quando já és dono do mundo, vais revoltar-te contra quem? E por que raio haverias de o fazer?! E assim vamos nós. Com novelas de putos "rebeldes", feitas por "actores" cujo momento de glória é entrar numa boys band ou aparecer de cú ao léu na capa da FHM, ensinando a todos os outros putos que temos que ter cuidado com as drogas (mas todos os agarrados são limpinhos, assépticos, com os mesmos penteados ridículos), que a gravidez adolescente é má (mas todas as pitas querem foder à grande, porque são donas da sua própria vida e os pais não sabem nada, etc.) e que, sobretudo, este mundo lhes deve alguma coisa. Os tomates! A mim e aos meus, o mundo deve alguma coisa, aos que foram atrás da merda do canudo para trabalhar num call center, aos que se matam a trabalhar e são forçados a ser os antes do tempo, não a esta cambada de mentecaptos. E depois estas séries vão retratando "problemas sociais da juventude", afagando a consciência de quem "escreve" aquela merda, enquanto ao mesmo tempo incentivam esta visão egocêntrica, egoísta e vácua desta geração acabadinha de sair do forno. Talvez eu esteja a ficar velho e a soar como o meu pai. Lamento se não é cool, mas esta merda enoja-me!

Ser rebelde pó caralhete!

Anónimo (senão ainda vou dentro)

3 comentários:

Anonymous disse...

Pinto

Como sabes eu não sou muito de mandar mails e muito menos de andar a escrever em blogs.
Contudo, desta vez e por culpa tua fizeste-me escrever umas linhas.
Pinto falando serio tenho de te dizer que concordo em absoluto com o que escreves-te apesar de uma ou outra coisa de pormenor, está muito bem escrito e conseguiste de facto de uma forma sucinta e inteligente descrever um pouco do mundo que nos rodeia por intermédio de uma serie que de facto é uma bosta. Eu ainda não tive coragem (tomates) para a ver, alias prefiro nem sequer escrever o nome dessa serie repugna-me.
Pois ser-se rebelde leia-se inconformista, critico, inquieto e lutador perante o mundo que nos apresentam, tentando eles que nós o comamos às colheradas, eu digo NÃO.
Ser-se rebelde é um gajo levantar-se da cama e ir trabalhar todos os dias num emprego a recibos verdes, ou com contratos de um mês de trabalho como o faz a KEMET em Évora.
Ser-se rebelde é também ser-se solidário.
A grande questão é que os putos de hoje não são como a serie os apresentam, estes passam tantas ou mais dificuldades que nós passamos, pois os pais esses também vivem com a corda na garganta, também trabalham e muitas vezes nem tempo, nem cabeça têm para EDUCAR os filhos.
O fodido é que estas merdas são apresentadas aos gaitos como estilo de vida "ser-se cool", não havendo e isto é impressionante, nada que nós possamos espremer para tirar algum sumo é uma laranja completamente seca. E os putos gostam (penso eu).
Rebelde way=fucked brain

Parabéns

Um forte abraço

José Lourido

responde

Anonymous disse...

http://en.wikipedia.org/wiki/Rebelde_Way

No fundo as novelas juvenis são franchises que canais com capacidade de produção compram e refazem com actores nacionais. O pacote já vem com todos os diálogos escritos, todos os planos, cenários e guarda-roupas definidos , nada é original. O sucesso já foi testado na versão original, a banda que a série lança já faz sucesso, por isso é uma aposta lucrativa ganha à partida, reforçada que o mediatismo que o canal produtor faz, chegando ao cúmulo de dar tempo de antena à novela no telejornal em prime time, como se de importante notícia se tratasse. O que eu acho revoltante é que o mercado para esta porcaria existe de facto,ou é construído com extrema facilidade. Aí tocas com o dedo na ferida: a geração boring na idade da aborrecência precisa de lixo para se excitar, e o sexo camuflado funciona sempre, até com os graúdos para quem toda aquela juventude fresquinha limpa a vista. E com aquela bodega vendem-se os produtos lucrativos: banda musical de plástico no top, acessórios escolares, anorexias, imagens, entrevistas, tudo de plástico e construído sobre caca. Bom, no nosso tempo eras os bonecos da Matel referentes aos desenhos animados, mas pelo menos era claro que era fantasia, agora procura-se moldar gerações com programas sem densidade nem conteúdo moral...

Estamos velhos? antigamente é que era bom? também não, mas cada vez mais sinto que os meus avós tinham razão quando diziam "cá chegarás"

Marius (antónimo)

Anonymous disse...

Hoje em dia, infelizmente, assiste-se a "um não sei quê", os miudos estão cada vez mais parvos e ignorantes, e muito graças a essas telenovelas que passam, basta ver a maneira de vestir, são todos iguais, os cabelos a mesma coisa.
Ainda este fim de semana na Arena D'Évora vieram cá os Buraca Som Sistema, que eu não aprecio, mas isso é outra história, passado algum tempo, tempo que acabar o concerto a cidade de Évora estava a "fervilhar" de miudos, miudos estes com os seus 14, 16 anos, todos vestidos de igual de garrafa de cerveja na mão, isto até nem me choca muito também o fazia quando era puto, o que me choca e que eu não consigo compreender, é a falta de educação e de valores que estes miudos de hoje em dia têm. Desde a insultarem pessoas, a partir garrafas contra o chão, a fazerem charros, a derrubarem sinais de trânsito, sinceramente acho que estou a ficar velho, mas será que sou eu apenas que vejo estas merdas? Eu tenho um filho e espero que ele não seja assim, por enquanto ele ainda sabe o que é jogar à bola, jogar às escondidas e ao apanha! aos miudos de hoje em dia digo, CRESÇAM E APAREÇAM