terça-feira, 26 de setembro de 2006

Fazer figura de urso às vezes sabe bem

Ainda na linha do post anterior, acho que se não se está disposto a fazer figura de urso, não se merece estar apaixonado. Não se conseguindo dizer em voz alta que se está apaixonado por alguém, é porque não se ama verdadeiramente essa pessoa. Estar apaixonado e amar alguém é como mandarmos uma ganda snifadela numa linha de coca ou numa flor carregadinha de pólen quando se é alérgico (acredito que não seja muito diferente, à parte das alucinações, a pedrada será idêntica). É sentirmo-nos num estado de ansiedade e excitação tal, que não há hipótese de nos contermos quando pomos a imaginação a trabalhar e nos vem à cabeça um turbilhão de ideias malucas. Mas basta uma ideia que seja, e se assim for, faz-se e nem se pensa duas vezes… só depois vêm as consequências, e nem sabem assim tão mal se ficarmos com a noção de que o risco valia a pena. Por exemplo, quem é que no seu perfeito juízo anda a saltar quintais no meio da noite para conseguir achar aquela rosa perfeita (ou dezenas delas)? Quem é que perde umas 3 ou 4 horas de sono uma noite de semana para escrever “amo-te” no chão da rua em letras garrafais (tinta de parede não agarra tão bem como a de pintar os traços da estrada, e na calçada ainda pior)? E quem diz isto, podia dizer outras coisas mais! Cada maluco com a sua pancada, certo!? O que interessa é que quem não está disposto a fazer figura de urso ou de palhaço (crítica comum feita pelos amigos que vêem de fora) não merece o que pode, eventualmente, vir a conquistar. De facto os tempos estão diferentes, as mulheres hoje em dia têm acesso a muita coisa que lhes estava vedado, os sexos estão mais parecidos e menos opostos, mas a conquista pelo amor, continua a ser um processo que não muda com o tempo. Independentemente da tecnologia, que ajuda a fazer muitas e boas partidas e surpresas, o instinto está lá para dar a volta à adversidade e às dificuldades que se apresentam, e não há nada mais interessante para fazer do que nos deixarmos levar pelo jogo de conquista e sedução. Figuras tristes, fazemos se ficarmos à espera que nos façam a nós aquilo que temos vontade de fazer a alguém especial!

3 comentários:

Anonymous disse...

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Álvaro de Campos

Lua disse...

Eu gosto de fazer figura de ursa.... :)

Patricia disse...

Estou a ler o teu blogue e...estou impressionada...