sábado, 29 de julho de 2006

Adizeres alentejanos, parte III

O grande poder de uma expressão como “mal amanhado” só pode ser comparado com a manifesta grandeza da vontade de a utilizar, e as situações para tal sucedem-se em catadupa: num restaurante, quando nos chega um prato estranho, de sabores e texturas duvidosas; depois de ir buscar o carro à revisão e aquele ruído esquisito ainda se ouve; aquele dia em que nos levantamos, tomamos banho, penteamo-nos e mesmo assim não conseguimos domar os jeitos do cabelo; uma refeição de fast-food que nada tem a ver com a imagem fantástica que aparece na fotografia do menu que está por cima do balcão; aquele encontro às cegas que aceitámos fazer, para que o nosso melhor amigo não ficasse sozinho com uma rapariga que acabou de conhecer, e ela traz uma prima assim a atirar para o excêntrico; ou no casamento em que se juntaram amigos que não se viam há séculos e têm de aturar aquela musiquita pimba o dia todo; há “N” situações nas quais a expressão “esta morraça tá muito mal amanhada” se aplica, e sabe sempre bem utilizá-la com um tom sarcástico tão apropriado quanto possível.

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