quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Sketches novos, vidas novas

Os Gato Fedorento são o inegável substituto do Hérman José no panorama humorístico português. Não tanto pelo estilo mas pela capacidade de mobilização e de pôr toda a gente a falar dos seus sketches nos dias seguintes a terem aparecido na televisão, e desde que estão na RTP que o potencial é outro e o resultado efectivo tem sido exponencialmente maior (e melhor). Recordo com saudade o Hérman do Tal Canal, Hermanias, Humor de Perdição e Herman Enciclopédia, bons tempos, e nem vou comentar o seu estado actual, não gosto de me repetir. Voltando aos Gato Fedorento, e à razão pela qual escrevo este post, devo juntar também outro ingrediente importante, que é o Contra Informação. Não sei se as Produções Fictícias também escrevem para este programa, mas o que interessa é de facto certos sketches e personagens que neles apareceram retratados, mais propriamente o boneco do Marcos Mendes e a caricatura do Paulo Bento. O que é que eu quero mostrar com isto? Já vão perceber! Marcos Mendes, além do que nele se vê, não terá muito mais a dar à governação e à política portuguesa porque tem sido completamente ridicularizado e descredibilizado, e o mesmo acontece com o desgraçado do Paulo Bento. Estes dois nunca mais vão ser alguém, ou ninguém! Não se trataram apenas de sketches inocentes com algum sucesso, mas sim uma verdadeira revolução no humor português. O Hérman já tinha tido um programa suspenso por alegada provocação, mas o que se conseguiu com estas duas personagens, e talvez outras como o boneco do Santana Lopes, por exemplo, foi arranjar uma forma de não conseguirmos desligar a personagem da pessoa real. Eu tento, mas não consigo, e não há forma de olhar para qualquer um dos dois sem me rebolar a rir à espera que eles cometam uma gaffe (ou digam o que costumam dizer), e se assim não for, rio-me que nem um perdido na mesma, mais não seja pela lembrança que guardo dos sketches. O cúmulo disto tudo deu-se em dois momentos distintos mas de certa forma similares:
- Marcos Mendes, de visita a uma escola secundária, perguntou se o conheciam dizendo que era o responsável pelo partido da oposição, muito importante na nossa democracia, que já tinha feito parte de um governo, etc. e tal, até que, perfeitamente resignado, disse “sou o ganda nóia do Contra Informação”… não interessa quem se riu e quantos foram, toda a gente ficou a perceber quem ele era!

- Paulo Bento mudou de penteado e está a fazer um esforço enorme para falar de outra forma, menos pausadamente e sem a sonoridade típica do castelhano, e conta-se que a equipa técnica e todos os jogadores do Sporting, no treino da manha seguinte à exibição do famoso sketch, apareceram de risco ao meio e a proferir insanamente a palavra 'tranquilidade' como se não houvesse mais nada para dizer!

O que dizer desta situação e da forma como o humor pode influenciar a política e o futebol? Pois bem, felizmente nenhum destes programas foi suspenso, mas quando o Hérman fez as tais rábulas históricas, nomeadamente a entrevista à rainha D. Isabel no Humor de Perdição (1987) foi suspenso a meio do programa… o que quero eu dizer com isto? Ainda não chegaram lá!? Vivemos numa democracia moderna e há liberdade de expressão, mas pelos vistos não se pode brincar muito com a igreja, that’s what!! O Diácono Remédios não serve de exemplo, pois é uma tentativa demasiado politicamente correcta para aferir se houve ou não mudanças nesse plano, e de cera forma os Gato Fedorento têm avacalhado a cena religiosa mas ainda não o fizeram no canal do Estado. Os antigos pilares da sociedade portuguesa, os famosos três 'F' (Fátima, Futebol e Fado), terão definitivamente passado para 'I-F-P', Igreja, Futebol e Política – nesta ordem. Já os queimaram, cozeram e torturaram, agora estão mais amenos e delicados, mas o efeito é o mesmo… muito pouco ou nenhum! Podem atrasar a cultura e a própria civilização mas não conseguem travar definitivamente a vontade e a determinação humanas. Quando queremos, podemos! Mesmo que 'deus' assim não o entenda, e acho mesmo que o tipo não foi visto nem achado para a maior parte, senão todas as decisões da igreja, o homem sonha a obra nasce e a vida acontece (“enquanto fazemos outros planos” e regras (idiotas)).
Fecho o post com uma frase engraçada que pode ter vários sentidos (vários é mais do que um, certo!?) consoante o momento e a forma como se diz: “some things never change and some things do”.

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