sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Há dias assim...

Sozinho, no meio do nada, em pleno Alentejo profundo. À minha volta toda uma imensa e profunda planície de searas irrequietas, contrastando com vinhas silenciosas e calmas. Por trás de mim um monte alentejano há muito abandonado, lá ao fundo meia dúzia de choupos e duas dezenas de sobreiros, e mais nenhuma casa, carro ou pessoa até onde a vista alcança. O céu oscila entre o azul forte e o branco carregado das muitas nuvens que passam. Ciente de uma das mais cruéis e verdadeiras realidades, que em último caso apenas podemos contar connosco, esperando que nunca se chegue a demonstrar isso mesmo, pois teremos sempre os amigos e a família, mas os amores, esses, vão e vêm como o vento. Uns mais fortes e arrebatadores, por vezes destruidores, outros mais amenos e delicados, mas todos eles marcantes e tendo em comum o facto de terem princípio, meio e fim, por muito fugazes e impetuosos que sejam. Nesta vida tudo acaba, mas é exactamente essa certeza que nos dá alento para vivermos sem grandes ilusões, pelos sentimentos e paixões, mas também com a motivação de nos dedicarmos a tudo o que venha como se fosse a última coisa que temos. E depois, quando já tiver passado, guardando as recordações dos momentos bem vividos, sem remorsos ou ressentimentos, mas principalmente sem guardar a ideia de que deixámos alguma coisa escapar. Nenhum momento ficou por viver e sentir, nada ficou por dizer ou experimentar. Correm-se todos os riscos possíveis em prol da conquista da felicidade. O segredo da vida não estará muito longe do que vos mostro nestas minhas palavras. Se a vida é uma viagem, não será só uma questão de fixarmos objectivos e querer lá chegar, a todo o custo, que seja. Será, fundamentalmente, a vontade e a fruição de assistir, com algum conforto e prazer, a toda a paisagem que se nos vai apresentando, mesmo em locais e momentos não esperados ou que não queríamos encontrar. E esta que hoje inunda os meus sentidos é de uma beleza e excelência extremas. Não há nada como o nosso espaço, e o Alentejo será sempre onde me sinto bem e em casa. Entre muitas dicas e conselhos, garanto-vos que não há nada como fazer o que se gosta ou ter-se prazer no que se faz, e depois de muitas tentativas fracassadas, lá consegui ter alguma sorte. A vida também se faz de sorte, mas há que saber jogar com os trunfos que se tem. Não queria transformar este post numa espécie de crónica da RFM, do padre não sei quantos que acaba sempre a dizer “já agora vale a pena pensar nisso”, mas foi assim que me saiu. Bom fim-de-semana. Amanhã há mais insanidades. ;)

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