terça-feira, 7 de novembro de 2006

Tal não é a cigueira, hã!?

Ninguém sabe o que é ser cego ou surdo até o ser, e a prova mais cabal do que acabo de referir é aquela sensação estranha que sentimos quando estamos numa ponta de uma divisão, fazemos o reconhecimento visual do espaço e dos objectos no caminho, memorizamos o percurso, desligamos o candeeiro nesta ponta da sala para podermos ir acender, às escuras, o candeeiro de tecto no interruptor da parede oposta, a uns bons quatro metros de distância. É um misto de desequilíbrio, inaptidão e estranheza quando a parede acaba por ficar mais longe do que nos pareceu quando ainda estávamos de luzes acesas, ou quando batemos em qualquer objecto com que não contávamos. Em relação à surdez a coisa difere um pouco, pois não dá para ensaiar. É tão fácil de perceber o que é estar-se surdo como é de criar o vácuo num saco de plástico com um aspirador, definitivamente inexequível. Por incrível que pareça ninguém está imune a uma possível situação destas, resta-nos apreciar o que há de bom na vida com todos os sentidos antes de os perdermos. Se ficarmos loucos antes disso, poderemos sempre tirar algum partido disso, e de certa forma não perdemos os cinco sentidos, apenas o que fazemos com eles. Assim a priori e sem grandes reflexões, acho que prefiro enlouquecer a ter uma doença degenerativa que me deixe incapacitado fisicamente. Mesmo que acabe a fazer figuras tristes, pelo menos não farei a consciencialização de uma morte anunciada. Mas isto sou eu a divagar quando não tenho problema nenhum de saúde, ou talvez esteja já um bocadinho insano, mas ainda assim chega bem para passar os dias com gosto e vontade. “Se não se pode ser um adolescente para sempre, ao menos que se seja um adulto divertido”. (esta ouvi hoje na Prova Oral e escrevi este post para a poder dizer…)

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